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Balança pode ter déficit em 2011

Projeções são díspares, mas há quem aposte num rombo de US$ 3 bilhões no ano que vem.

Balança pode ter déficit em 2011

O saldo comercial deverá manter a tendência de encolhimento em 2011, num cenário em que as importações tendem a continuar a crescer a um ritmo bem superior ao das exportações. Alguns analistas já acreditam que o país poderá ter o primeiro déficit desde 2000, quando foi registrado um rombo de US$ 700 milhões.

Ainda há, contudo, muita disparidade nas estimativas para o resultado do ano que vem. Existe quem projete um número próximo ao superávit de US$ 16 bilhões esperados para este ano, como o Bradesco, que aposta em US$ 13,9 bilhões, e até quem preveja um pequeno déficit, de US$ 3 bilhões, como o Itaú Unibanco. Expectativas diferentes quanto à trajetória dos preços de exportação, do volume de importação e do nível do câmbio explicam as divergências em relação às estimativas.

O economista Julio Callegari, do J.P. Morgan, acredita que o saldo comercial cairá a zero em 2011, depois de atingir US$ 15 bilhões neste ano. Ele acredita num crescimento ainda forte das importações, já que a demanda doméstica (consumo das famílias, consumo do governo e investimento) continuará a avançar a um ritmo bem superior ao da economia global.

Para Callegari, as quantidades importadas vão aumentar 15% em 2011, menos que os 37% de 2010, mesmo assim um ritmo expressivo. Já as exportações devem ter um desempenho bem menos exuberante, com o volume subindo 4,3% no ano que vem, menos da metade dos 9% esperados para 2010. Nas contas do J.P. Morgan, o PIB global vai crescer 2,9% em 2011, abaixo dos 3,6% deste ano, um cenário pouco favorável às vendas externas brasileiras. A demanda doméstica, segundo ele, vai aumentar 10,7% em 2010 e 6,5% no ano que vem.

O economista destaca ainda que a sua projeção contempla a manutenção dos termos de troca (a relação entre os preços de exportação e importação) nos elevadíssimos patamares atuais, estimando alta de 2,5% para as cotações tanto de vendas quanto de compras externas em 2011. Callegari reforça com um exemplo o quanto o desempenho da balança hoje é dependente dos termos de troca, que melhoraram muito neste ano devido à alta de commodities. “Se os preços de exportação e importação estivessem nos níveis de 2005, próximos da média histórica, o Brasil teria neste ano um déficit comercial de US$ 18,5 bilhões, e não um superávit de US$ 15 bilhões”, diz ele, que considera possível um déficit em 2011, já que o resultado depende muito dos preços de exportação.

O economista-chefe do Banco Safra de Investimento, Cristiano Oliveira, trabalha hoje com um superávit comercial de US$ 4,5 bilhões para o ano que vem, mas diz que a projeção “tem viés de baixa”. Ele espera um crescimento ainda bastante forte do volume importado em 2011, de 25%, bem superior aos 8% esperados para as quantidades exportadas. Como Callegari, Oliveira lembra que a demanda doméstica deverá avançar bem mais que o resto do mundo. Além disso, para impulsionar as importações, o câmbio continuará valorizado, diz ele, que projeta um dólar de R$ 1,70 no fim deste ano e de R$ 1,65 no fim do ano que vem.

Oliveira não descarta um rombo comercial em 2011, “a depender do que ocorrerá com as economias desenvolvidas”. Uma desaceleração mais forte nos EUA ou na Europa pode piorar as perspectivas para as exportações brasileiras.

Os economistas do Bradesco, por sua vez, têm uma visão mais otimista sobre o desempenho da balança comercial em 2011. Para o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do banco, o superávit cairá de US$ 18,1 bilhões neste ano para US$ 13,9 bilhões. Um ponto importante que explica a diferença em relação às projeções mais cautelosas de outras instituições está nas premissas mais positivas do Bradesco para os preços de commodities. A expectativa do banco para as cotações de exportação é de uma alta de 9% em 2011, bem acima dos 4,3% projetados pelo J. P. Morgan, por exemplo. Também há expectativas diferentes quanto à trajetória de importações e do dólar. O Bradesco espera uma alta de 19% do volume importado, menos que os 25% estimados pelo Safra, e de um dólar a R$ 1,80 no fim de 2011 – acima dos R$ 1,65 do mesmo Safra.

O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, tem hoje uma estimativa de saldo comercial próxima à do Bradesco, de US$ 13 bilhões. Um motivo importante é que ele espera uma desaceleração mais forte da economia brasileira em 2011, apostando num PIB de 3,6%, um número bem mais fraco que os 4,5% do J.P. Morgan. Isso implica uma expansão mais modesta de importações, diz ele. Gonçalves acredita que o próximo governo reduzirá o ritmo de expansão dos gastos públicos, com impacto sobre a demanda. No entanto, como o crescimento global pode ser menor do que se esperava há alguns meses, ele afirma que o saldo poderá ficar abaixo de US$ 13 bilhões, já que as exportações brasileiras tenderiam a sofrer nesse cenário externo mais adverso.