Da Redação 12/12/2003 – 04h50 – O Banco Rural estabeleceu o comércio exterior e o agronegócio como nicho de atuação e investimento nos próximos anos. “São os segmentos que puxam e vão continuar puxando a economia”, disse José Roberto Salgado, principal executivo da instituição mineira. Isso não significa que está abandonando seu nicho original – pequenas e médias empresas com faturamento de R$ 10 milhões a 120 milhões, o “middle market”.
Ao contrário, diz Salgado, a idéia é aumentar operações de comércio exterior e agronegócios na própria base de clientes “middle market”. “É o nicho dentro do nicho”, explicou o executivo. Em função dessa estratégia, o banco está ampliando sua estrutura internacional. Já autorizada pelo Banco Central de Portugal, a subsidiária do Rural em Lisboa vai abrir uma agência em Luanda, Angola. Em abril deste ano, o banco inaugurou uma trading no Brasil, em sociedade com a empresa de consultoria do ex-ministro da Agricultura, Pratini de Moraes.
Segundo Salgado, a subsidiária em Lisboa, aberta inicialmente para atender a demanda dos clientes brasileiros, criou uma carteira própria de clientes naquele país. “Com o avanço do processo de paz em Angola, investidores portugueses começaram a fazer negócios no país africano, através do banco”, conta o executivo. Ao chegar em Luanda, os representantes do Rural encontraram ainda várias empresas brasileiras que também estavam instaladas em território angolano. Há uma corrente de compra de produtos brasileiros – desde papel higiênico até velas e material de construção – no caminho inverso das exportações de petróleo de Angola para o Brasil.
A lógica é criar uma rede capaz de atender à demanda das pequenas e médias empresas brasileiras que exportam e importam. E também atender os clientes das subsidiárias internacionais do grupo – Lisboa, Londres e Miami, Nassau e Ilha da Madeira. O objetivo é elevar, dos atuais 40%, a representatividade do comércio exterior na carteira de crédito do banco, que em setembro totalizava R$ 3,2 bilhões.
Por que Angola? Pela mesmo motivo que levou o banco, cinco anos atrás, a centrar sua atuação no “middle market” em território brasileiro: suprir uma demanda que não é do interesse dos bancos grandes – a expressão correta é “não era”, porque hoje todos os grandes bancos estão disputando o “middle market”. Salgado diz que não faria sentido o Rural abrir filial em Tóquio, Nova York, ou mesmo na África do Sul, o país mais desenvolvido da África. Isso porque ele teria que concorrer com um sistema financeiro já consolidado, formado por bancos internacionais poderosos, ao qual o Rural não acrescentaria qualquer diferencial.
Além de Angola, a instituição mineira quer colocar sua bandeira também em Moçambique e Cabo Verde. No front doméstico, o Rural pretende abrir 22 correspondentes bancários em cidades do interior, fortes no agronegócio. O correspondente será o agente de negócios em municípios como Sinop (MT), Dourado (MS), Araguaína (TO), Marília e Presidente Prudente (SP). “Com a redução dos juros, os spreads caem e tenho que criar condições para expandir nossa base de atuação”, resume Salgado.