O Banco do Brasil aproveitou o apetite do investidor estrangeiro por títulos brasileiros e captou US$ 1,5 bilhão com a emissão de bônus perpétuos, que não têm data de vencimento preestabelecida. A operação vai permitir que a instituição federal reforce o patrimônio, o que poderá dar fôlego extra de até R$ 20 bilhões para novos empréstimos. A demanda pelos papéis surpreendeu e a operação, que originalmente era de US$ 500 milhões, foi triplicada diante da demanda, que atingiu US$ 13 bilhões. O juro para o investidor será de 8,5% ao ano.
Comemorada fortemente pela diretoria da instituição, a operação vai melhorar um dos pontos frágeis do banco federal: a capacidade de realizar novos empréstimos no médio prazo. Como a captação feita ontem usa papéis sem data de vencimento (o investidor, porém, pode resgatá-los a partir de outubro de 2020), o dinheiro obtido pode ser somado ao patrimônio do banco. Essa transação foi autorizada em 2007 pelo Banco Central, mas não havia sido realizada desde então. O Bradesco, por exemplo, já emitiu papéis perpétuos, mas não usou o dinheiro para essa mesma finalidade.
Analistas consultados pelo Estado avaliam que, a grosso modo, a operação deve aumentar a capacidade do Banco do Brasil de emprestar em até R$ 20 bilhões nas várias modalidades de crédito, como financiamento ao consumidor, segmento imobiliário e empréstimos pessoais. A conta é pouco precisa porque o valor exato depende de vários indicadores, como o risco das operações do banco.
O maior fôlego do BB no crédito ocorre porque vão crescer o patrimônio e o chamado índice de Basileia, que exige que bancos tenham no mínimo R$ 11 de patrimônio para cada R$ 100 emprestados. Quanto maior o capital, maior a capacidade de realizar novos créditos. É nesse ponto que o Banco do Brasil tinha desvantagem na comparação com os concorrentes para avançar no mercado nos próximos anos.
Segundo o vice-presidente de Finanças, Mercado de Capitais e Relações com Investidores do Banco do Brasil, Ivan de Souza Monteiro, o indicador de Basileia do banco estava até ontem em 14,1%, em trajetória de queda para o mínimo exigido de 11%. Agora, o número sobe para próximo de 15%, mais perto dos bancos privados nacionais. Segundo dados do Banco Central, Itaú e Bradesco operam com número perto de 17% e o Santander, antes do lançamento de ações, estava com situação bem mais confortável, com 25,3%.
Em julho, o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, admitiu em entrevista ao Estado que a instituição passou a ter “índices apertados após as aquisições da Nossa Caixa e do Votorantim”. Antes do negócio com o Votorantim, o número estava em 15,3%.
Ivan de Souza Monteiro chamou a atenção ontem para a forte demanda pelos bônus do Banco do Brasil. Segundo ele, a intenção inicial era ofertar apenas US$ 500 milhões. Na apresentação aos investidores potenciais, porém, muitos se mostraram interessados e, apenas na Ásia, a demanda somou US$ 7,5 bilhões.
“Começamos o road show em Cingapura e Hong Kong, passamos por Genebra e Londres. Íamos para Nova York, mas tivemos de interromper”, comemorou, ao comentar que a demanda pelos papéis já era mais que suficiente para o fechamento do lançamento.