O mês de outubro pode ter marcado uma retomada do crédito à exportação. O total de Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio (ACC) e de Adiantamentos sobre Cambiais Entregues (ACE) concedidos pelo Banco do Brasil, o maior agente desse mercado, atingiu US$ 1,3 bilhão no mês. O volume é 44% superior à média mensal de US$ 900 milhões registrada entre janeiro e setembro deste ano. Para o banco, o ritmo se aproxima dos níveis pré-crise e a tendência de crescimento deve se manter no próximo ano.
Alguns especialistas acreditam que grandes exportadores podem estar tomando essas linhas, baratas, para fazer arbitragem e aproveitar as altas taxas de juros da aplicação em reais.
A modalidade de financiamento ao comércio exterior é a única que ainda não retomou o ritmo anterior às turbulências internacionais. Segundo dados do Banco Central (BC), o saldo de ACC – antecipações de recursos vinculados a contratos de exportação – fechou setembro em R$ 30,3 bilhões, 30% inferior aos R$ 43,3 bilhões registrados no fim de 2008. Os repasses externos – transferências de recursos captados no exterior por instituição financeira para empresas no país – cujo estoque era de R$ 28,5 bilhões antes da crise, agora oscila na casa dos R$ 9 bilhões.
A entrada de dólares via empréstimo ao exportador é mais uma variável que pode pressionar a moeda americana. Mas os exportadores não mexeram no volume de recursos mantidos no exterior. Segundo Toledo, o saldo dos exportadores nas contas do BB fora do país se mantém constante em torno de US$ 5 bilhões.
Para o executivo, a recuperação do crédito reflete a recuperação das exportações no mês passado. As baixas taxas de juros internacionais também têm contribuído para essa retomada. O custo de uma linha externa chegou ao nível mais baixo dos últimos anos.
O preço médio praticado para ACC e ACE, em setembro deste ano, chegou a 3,096% ao ano, segundo dados fornecidos pelo Banco do Brasil. Antes da crise, em junho de 2008, o custo médio era de 5% ao ano. Logo após as turbulências, que se seguiram à quebra do banco americano Lehman Brothres, a taxa disparou para 7%, recuando desde então. No início de 2010, o custo já estava baixo, na casa dos 3,5% ao ano. O custo caiu puxado pela Libor, mas os spreads se mantêm constantes, diz Toledo.
Os dados do BC referentes ao crédito em outubro só serão conhecidos no fim deste mês, mas a melhora já pode ser notada no resultado do movimento de câmbio. Os números divulgados na semana passada pela autoridade monetária mostram que pela primeira vez, desde maio, a entrada de dólares para as exportações superaram as saídas decorrentes dos contratos de importação.
Os dados do BC mostram que o mês passado também registrou o maior nível de ACC no ano, de US$ 3,408 bilhões, alta de 30% sobre setembro. O volume foi o mais alto desde o fim de 2008, e já se aproxima da média mensal daquele ano, que era US$ 3,8 bilhões.
A demanda por crédito externo em outubro animou o vice-presidente da área de negócios internacionais e atacado do BB, Allan Simões Toledo. “Caminhamos para retomar o patamar anterior à crise”, diz. “Outubro foi um dos melhores meses em termos de crédito à exportação e até superou um pouco nossas expectativas”. Os maiores demandantes são exportadores ligados ao agronegócio, os setores de metalurgia e siderurgia, além da indústria automobilística.
O BB já responde por um terço das concessões de crédito à exportação. As liberações do banco pularam de US$ 16,3 bilhões, entre janeiro e outubro do ano passado, para US$ 23,9 bilhões no mesmo período deste ano, alta de 46,5%. Os maiores avanços ocorreram nos empréstimos sindicalizados para pré-pagamento de exportação, que passaram de US$ 1,9 bilhão para US$ 2,6 bilhões, e nas notas de crédito à exportação (NCE), que foram de US$ 3,2 bilhões para US$ 8,6 bilhões entre 2009 e 2010.