A ONG “Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal” lançou ontem (04/03) uma campanha que pede que a empresa JBS, dona da marca Seara, se comprometa com o fim das gaiolas de gestação na produção de suínos, conforme divulgado na imprensa em carta aberta. O link da petição on line está no final desta matéria. O argumento utilizado para pedir este compromisso especificamente à JBS foi o anúncio feito pela BRF no final do ano passado de abolir as gaiolas de gestação em suas unidades de produção no prazo de 12 anos. No ar há pouco mais de dez horas o abaixo assinado já contava com mais de 3800 assinaturas de uma meta estipulada em 5000 adesões.
Não é a primeira e nem será a última manifestação contrária ao setor produtivo. Na verdade ainda não estamos acostumados com este tipo de debate, já muito comum nos países desenvolvidos, sobretudo na Europa e em países como Austrália, Nova Zelândia e Canadá. Não há dúvidas de que para a cadeia produtiva isto é realmente uma afronta ao esforço de melhoria contínua empregado por produtores e indústrias, mas o que realmente este em jogo é a comunicação com o consumidor. No mundo inteiro é assim, a diferença entre o Brasil e outros países que lidam com ações deste tipo é que ainda estamos despreparados para enfrentar tais situações.
É natural que internamente, no seio da produção, as reações sejam abertamente contrárias, sobretudo pelo fato de que para causar maior impacto estas campanhas se utilizam de fotos, dados e afirmações que em grande parte não correspondem à realidade ou carecem de comprovação científica. Mas para o grande público a reação contrária ou a manifestação indignada do setor produtivo causará somente mais curiosidade pelos fatos mencionados. Ou seja, há que se aprender a debater e dialogar com consumidores bombardeados com todo tipo de informação e cada vez mais atentos e interessados em saber o que está por trás de um pacote de linguiça ou de um bife.
Este diálogo não está restrito ao tema do bem-estar animal, e muito menos à suinocultura. Logicamente animais criados em sistemas altamente confinados como suínos e aves de postura serão alvos mais frequentes quando o tema for o bem-estar animal. Na semana passada o grupo Sodexo, especializado em serviços de alimentação, com presença em mais de 80 países e gastos de aproximadamente 900 milhões de dólares anuais com proteína animal, se comprometeu a eliminar o uso da carne de vitela até 2017, e o de ovos produzidos em baterias de gaiolas até 2020, bem como implementar protocolos sobre o corte de cauda e a castração em suínos.
Outro exemplo de tema de atrito com os consumidores e ainda pouco debatido no Brasil é a questão do uso de antibióticos. No entanto, quem visita outros países ou acompanha os movimentos das grandes redes mundiais de varejo, sabe que o tema é amplamente debatido com os consumidores. Caberá às cadeias de produção animal como um todo, e às grandes marcas comerciais de produtos de origem animal em particular, estarem atentos às mudanças na sociedade e preparados para dialogar com consumidores cada vez mais informados e exigentes.