A divisão de biocombustíveis da British Petroleum (BP) planeja colocar no mercado brasileiro em até três anos duas novas tecnologias para biocombustíveis de segunda geração que estão sendo desenvolvidas pela matriz nos EUA: o etanol de lignocelulose e o biobutanol.
Para tanto, pretende lançar mão de sua estreia no mercado brasileiro de etanol por meio da Tropical Bioenergia, no primeiro investimento estrangeiro no setor sucroalcooleiro do país. A Tropical é uma joint venture criada em abril de 2008 com a Santelisa Vale – segundo maior grupo sucroalcooleiro do país, em apuros financeiros e acordo fechado para passar ao controle da Louis Dreyfus Commodities – e o Maeda, um dos maiores produtores de algodão. Santelisa e Maeda detêm, cada, 25% de participação. A BP, 50%.
Em entrevista ao Valor, o presidente da BP Biofuels Brazil, Mario Lindenhayn, afirmou que a ideia inicial é utilizar a planta da Tropical Bioenergia em Edeia, no Estado de Goiás, como porta de entrada para as duas novas tecnologias em solo brasileiro. A unidade terá em 2009/10 sua primeira safra completa, com moagem esperada de 2,4 milhões de toneladas de cana. Metade vai para a produção de açúcar, metade para a de álcool.
Para as próximas safras, a empresa pretende dobrar para 4,8 milhões de toneladas o volume de cana processada – só que o incremento será destinado somente à produção do combustível. “É o que sabemos fazer”, diz Lindenhayn, que participou ontem do Ethanol Summit, realizado em São Paulo.
Em três ou quatro anos, a divisão brasileira da BP deverá abrir sua segunda unidade na região, dando início ao processo de “vários clusters” que diz querer construir no Brasil. Esse segundo projeto encontra-se em fase de análise e sua localização não foi definida.
A companhia não descarta, tampouco, novas joint ventures no país. “Pensamos nisso”, diz o executivo, que assumiu em fevereiro o comando da empresa. “O importante é que sejam ativos de grande escala, tecnologia de ponta e alinhamento estratégico com a BP”.
Desde 2006, quando a divisão de biocombustíveis foi criada pela BP, já foram contratados US$ 1,5 bilhão para pesquisas e investimentos em etanol de segunda geração. O segmento é uma das maiores apostas da companhia britânica, compartilhada por outros gigantes mundiais do setor.
O raciocínio das empresas de combustíveis se baseia em ao menos três fatos irrefutáveis: 1) a necessidade de se produzir combustíveis limpos diante de um cenário dramático de mudanças climáticas 2) de diminuir a dependência energética de grandes consumidores 3) e o aumento mundial do consumo de biocombustíveis.
Segundo previsões apresentadas por Lindenhayn, o consumo atual de biocombustíveis no mundo é da ordem de 2%. Mas em 2020, diz o executivo, subirá para 20%.
Por isso, aumentar o leque de ofertas nas plantas brasileiras é visto como estratégico pela BP. “Toda planta que tivermos terá também etanol de segunda geração”, afirma Lindenhayn. “E o meu desafio aqui é fazer com que o Brasil esteja entre as lideranças nesta área”.
Diferentemente do etanol de primeira geração, feito a partir do caldo da cana-de-açúcar, o de segunda geração (também conhecido como etanol celulósico) é produzido a partir da biomassa, um subproduto da cana. Outra vantagem é que ele pode ser feito a partir de outras biomassas, como sabugo de milho e cascas de árvores.
No caso da BP, as pesquisas estão fundamentadas especialmente no biobutanol, combustível com valor energético 20% superior ao do etanol, e na lignocelulose, produzida a partir de “energy grass” – fontes vegetais da família da cana.
Desenvolvido em parceria com a DuPont, o biobutanol tem como característica a não absorção de água, o que permite seu transporte pelos mesmos dutos usados na distribuição de combustíveis como a gasolina. Segundo Ian Dobson, diretor de Tecnologia e Estratégia da BP, o biobutanol tem também desempenho igual ao de combustíveis tradicionais nos carros, podendo ser facilmente incorporado ao mercado. As pesquisas nos Estados Unidos estão em estado avançado: a primeira planta com produção em escala será inaugurada entre 2012 e 2013.
Já a lignocelulose é fruto de pesquisas da joint venture com a empresa de tecnologia Verenium, que inaugurará sua primeira unidade na Flórida, em 2012. “Assim que forem desenvolvidas, traremos para o Brasil. Mas não queremos vender só para as nossas plantas. Queremos vender as novas tecnologias para o mercado”, diz Lindenhayn.