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Biocombustível não é modismo, veio pra ficar

<p>Especialistas apontam as vantagens do etanol, que se consolidou no mercado interno e está a caminho de tornar-se commodity.</p>

Petrobrás investe pesado no álcool e diz que o caminho não tem volta. Executivo defende revisão no projeto de biodiesel. Temas foram debatidos no primeiro painel desta terça (12), no segundo dia do 7º. Congresso Brasileiro de Agribusiness, no WTC, em São Paulo.

Redação (12/08/2008)- A energia renovável não é um modismo trazido pelas cotações recordes do petróleo. É uma fonte que veio para ficar, e isso significa uma oportunidade imperdível para o Brasil, país que tem o maior potencial bioenergético do planeta. A conclusão é de alguns dos principais especialistas no assunto ‘energia’ presentes no 7º Congresso de Agribusiness da Abag (Associação Brasileira de Agribusiness), sob o tema Agronegócio e Sustentabilidade, nesta terça-feira (12).

A chamada ‘janela de oportunidades’ não passou despercebida à Petrobrás, justamente a gigante do petróleo brasileiro. “Não há nada de estranho nisso. A Petrobrás está investindo firme em biocombustíveis e não há volta para este projeto dentro da empresa. Ele vai em frente, seguindo o que manda o futuro”, disse Paulo Canabrava, consultor de Negócios de Abastecimento da Petrobrás.

o biodiesel levará algum tempo para se consolidar como combustível em larga escala, mas o etanol já é uma realidade prestes a se tornar alternativa mundial ao petróleo. “O que precisamos é levar o etanol ao grupo das commodities (matérias-primas com distribuição e cotação mundiais). Estamos investindo na compra de 26 navios em curto prazo para levar o etanol brasileiro a todos os lugares do mundo”, revelou Canabrava.

Mas há um fator que ainda emperra a globalização do etanol: a produção concentrada. Brasil e Estados Unidos dividem atualmente a liderança no mercado de etanol. Juntos, produzem 70% do álcool combustível no mundo. “Nenhum país quer comprar de um ou dois fornecedores porque é perigoso como estratégia, disse Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente do Comitê Nacional de Agroenergia da Abag. “Por isso precisamos que outros países se tornem fortes no etanol também, para ampliar o mercado, que é muito promissor”.

No mercado interno, o etanol já ultrapassou a gasolina nos postos de combustíveis neste ano. E a produção não pára de crescer. Hoje são 20 bilhões de litros por ano, volume 14% superior ao do ano passado e quase 100% maior em relação a 2002.  Até mesmo a indústria química, que havia abandonado o álcool na década de 1980 em favor da nafta (derivado de petróleo) vem retomando o combustível. “Vale a pena usar o etanol como base para a produção de plástico. E não só pelo preço astronômico do petróleo, mas também porque é uma tecnologia menos poluente”, afirmou Weber Porto, presidente da Evonik Degussa Brasil, empresa química de origem alemã que adotou a matéria-prima vegetal. 

Outra prova da versatilidade da natureza é a geração de bioeletricidade. A partir de resíduos da cana-de-açúcar que normalmente são queimados, como bagaço e palha, é possível produzir energia elétrica a custo e impacto ambiental mais baixos do que as complexas hidrelétricas ou as poluentes termelétricas. “O que iria poluir a natureza pode servir para gerar energia limpa”, disse Carlos Roberto Silvestrin, consultor da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Única)

Para ele, com pouco tempo e investimento essa opção de energia renovável pode passar dos atuais 3% da matriz energética brasileira para 15%. Silvestrin afirma que o esmagamento da cana produz um terço de caldo (que geram o açúcar e álcool), um terço de bagaço e um terço de palha. “Ou seja, dois terços da planta são inutilizados quando poderiam virar energia”.

REVISÃO NO BIODIESEL

Se o etanol só traz otimismo, o biodiesel deveria ser revisto como política de energia renovável no Brasil. A opinião é de Marcello Brito, diretor comercial do Grupo Agropalma, para quem “às vezes, é melhor dar dois passos atrás e retomar a jornada a insistir num caminho errado”. Brito afirmou que mais da metade do biodiesel fabricado hoje no Brasil vem da soja, o que não condiz com a idéia de aproveitamento ideal de culturas para transformação em combustível. “O Brasil critica os Estados Unidos por estarem usando milho para fazer etanol, mas nós estamos usando soja, que é também um alimento importante, para fazer biodiesel. Isso pressiona os preços dos alimentos desnecessariamente”, disse ele. 

Para ele, há um problema sério na escolha das matérias-primas para o biodiesel, fomentado sobretudo pelo governo federal. “O dinheiro público tem financiado projetos para a produção da mamona, por exemplo, e ninguém usa essa planta para fazer biodiesel. Mas o governo insiste”. Há ainda projetos para o aproveitamento do girassol, que seria um desperdício, pela nobreza do óleo desta semente. 

Brito, cuja empresa produz a palma para o biodiesel, disse que até com esta planta o governo atua errado. “Há um investimento público em plantação de palma no interior da Amazônia em uma área de 100 mil hectares, mas ali não há mão-de-obra suficiente para tocar o projeto e a planta precisa ser levada de barco por 650 quilômetros até Manaus. É esse tipo de problema que precisa ser sanado”.

Pelo lado dos produtores, Brito criticou a ausência de estudos de impacto ambiental na maioria dos empreendimentos de produção de biodiesel. Numa pesquisa com duas dezenas de empresas que se dispuseram a responder a um questionário, Brito concluiu que mais da metade não tem estudo de impacto sobre água, flora e fauna e nem mesmo sabe qual o nível de emissão de carbono do próprio ciclo de produção. “Isso quer dizer que o produtor não sabe se está contribuindo para reduzir ou aumentar a poluição ambiental”, finalizou.

CAMPANHA DO ETANOL

A União da Indústria de Cana-de-Açucar (ÚNICA) lançou nesta terça durante o Congresso da Abag uma campanha especial para facilitar o entendimento sobre a importância do etanol brasileiro. A campanha, criada pela Talent, apresenta a nova marca para o etanol brasileiro associando o uso do combustível a outras atitudes sustentáveis. Com a assinatura “Etanol: uma atitude inteligente”, a campanha circulará nos principais mercados nacionais e ficará no ar até novembro. A campanha terá apoio do site www.etanolverde.com.br, disponível a partir desta quart-feira (13).