Tradicional processadora de grãos de capital nacional que enfrentou sérios problemas financeiros no início desta década, a paulista Granol encontrou no crescente mercado brasileiro de biodiesel uma oportunidade para deixar as agruras para trás e praticamente triplicar de tamanho.
A empresa se destacou como a maior fornecedora de biodiesel para o programa governamental de disseminação do uso do combustível misturado ao diesel no País em 2008. A posição deve ser mantida em 2009, e a estratégia para defender esta liderança em 2010, quando a concorrência deverá aumentar, já está definida.
No 16º leilão de compra de biodiesel da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em 17 de novembro, a Granol foi mais uma vez a vencedora. Ofertou 80 milhões de litros diante de um preço de referência de R$ 2,35 por litro e preço médio ponderado de R$ 2,33 (deságio médio de 1%) e fincou as bases para avançar no mercado no ano que vem, quando estreia a mistura de 5% de biodiesel no diesel (B5).
A adoção desse percentual deveria começar a valer apenas em 2013, mas tendo em vista o crescimento do parque produtivo no país o governo decidiu antecipá-la – até porque o consumo de diesel recuou no país em 2009, principalmente por causa dos reflexos da crise financeira global.
Mesmo com a crise e seus efeitos no processamento de grãos e na exportação de derivados em geral, Paula Regina Ferreira, diretora financeira da Granol e filha do principal acionista da empresa, antecipa que o faturamento total voltará a aumentar em real em 2009, como acontece desde 2005. Números preliminares indicam que a receita alcançará R$ 1,717 bilhão, 2,1% mais que em 2008.
Em dólar, contudo, haverá queda. A projeção sinaliza US$ 855 milhões, 10,5% menos em igual comparação. A guinada cambial verificada após o aprofundamento da crise financeira irradiada dos EUA, em setembro do ano passado, deixou como saldo prejuízo em 2008, mas, de acordo com Paula, a Granol encerrará 2009 no azul.
Fundada no interior paulista em 1966, a processadora de grãos sobreviveu à intensa concentração deste segmento liderada por multinacionais como Cargill, ADM e Bunge com atuação regionalizada focada no mercado a granel. Ancorada pela soja, avançou a partir da aposta em clientes institucionais de farelo para a produção de ração e de óleo vegetal para o varejo.
Após quase quebrar por não contar com uma política apropriada de hedge quando houve a maxidesvalorização do real, em 1999, quando contou com a “compreensão” de fornecedores e clientes para continuar a operar, vislumbrou a oportunidade aberta pelo biodiesel já em 2004.
“A Granol foi uma das primeiras empresas a levar a questão do biodiesel ao governo. É um produto com grande sinergia com o nosso negócio”, afirma Paula. Para a produção do combustível alternativo, investiu na soja como principal matéria-prima e não errou, já que o grão segue como a fonte economicamente mais viável para sustentar o avanço do mercado.
A companhia estreou na área com o arrendamento de uma unidade de oleoquímicos em Campinas (SP), em 2006. Depois investiu R$ 150 milhões em duas plantas – em Anápolis (GO) e Cachoeira do Sul (RS) -, onde já estavam instalados dois de seus cinco complexos industriais. Tem pronto um projeto para uma terceira planta em São Paulo, que depende da evolução das vendas e de questões tributárias como a incidência de ICMS no transporte interestadual, que tira competitividade da operação.
“O biodiesel ainda não é economicamente viável sem o programa do governo, mas o mercado está se consolidando e já há uma matriz considerável no país”, diz Paula Ferreira. A Granol mantém parceria com pequenos produtores em Mato Grosso do Sul, mas ainda considera que, de um modo geral, trabalhar com pequenos produtores é um dos grandes desafios do programa.
Em 2008, segundo a ANP, a Granol liderou as vendas de biodiesel nos leilões realizados, com participação de 20%. A fatia foi inflada pelo fato de que algumas empresas não cumpriram totalmente seus compromissos de entrega. Em 2009, mesmo sem esta “ajuda”, a Granol projeta manter a liderança no fornecimento.
Com a queda das vendas de diesel no país em 2009, muitas das quatro dezenas de companhias que atuam nesse mercado não entregarão 100% do volume comprometido nos leilões. As regras do governo preveem um percentual de 10% para mais ou para menos nas entregas acertadas.
Com o avanço, o biodiesel deverá representar 37% do faturamento da empresa em 2009, segundo os dados preliminares fornecidos pela diretora. Óleos para alimentação humana e fins industriais deverão responder por 14%, enquanto o farelo de soja, destinado sobretudo à produção de rações, ainda abocanhará uma fatia de 45% das vendas totais. “Outros” negócios completam os 100%.
Com o biodiesel, a participação do mercado interno na receita total deverá alcançar 66%, ficando as exportações com os 34% restantes. “Apesar do biodiesel, nosso ‘core business’ continua sendo o esmagamento de sementes e oleaginosas”, afirma Paula. A Granol tem capacidade anual para esmagar 1,9 milhão de toneladas de grãos e refinar 250 mil toneladas de óleo bruto. A empresa tem 1,3 mil funcionários e 8 mil clientes ativos.