Até o momento com R$ 4,5 bilhões em sua carteira sucroalcooleira para 2010, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) olha para o próximo ano com otimismo. Os fundamentos positivos para açúcar, combustíveis renováveis e bioenergia aliados à expectativa de retomada do crescimento econômico sustentam essa perspectiva. Carlos Eduardo de Siqueira Cavalcanti, chefe do departamento de Biocombustíveis do BNDES, espera em 2010 pelo menos repetir o volume de recursos injetados no setor este ano. Isso quer dizer desembolsar mais R$ 6 bilhões.
Durante a crise, o banco de fomento teve que ocupar parte do vácuo deixado pelas instituições financeiras, que ficaram mais avessas a riscos. Após setembro de 2008, mês da quebra do banco americano Lehman Brothers, o BNDES entrou agressivamente assumindo riscos e passou a deter nos 12 meses seguintes 62% do financiamento direto às usinas, ou seja, sem a intermediação e assunção de risco de outros agentes financeiros.
Historicamente, os financiamentos diretos do banco ficam no patamar de 45% do desembolso total. “Ao longo de 2010 essa distribuição do risco voltará aos níveis anteriores”, diz Cavalcanti.
Até a primeira semana de dezembro, os desembolsos de 2009 somaram R$ 5,7 bilhões, valor que deve atingir, segundo ele, a casa dos R$ 6 bilhões até o fim do mês. Os atuais R$ 4,5 bilhões em carteira para o ano que vem se referem a projetos que iniciaram o trâmite no banco ao longo dos últimos dois anos, na época do chamado “boom” do etanol e, cuja operação neste momento já foi contratada ou aprovada.
Os R$ 1,5 bilhão adicionais para fechar a conta de 2010 devem entrar na carteira de desembolsos ao longo do novo ano. Depois de um ano e meio praticamente sem ter demandas novas de financiamento para o segmento sucroalcooleiro, o BNDES voltou a receber no terceiro e no quarto trimestres de 2009 novas consultas que, atualmente, somam R$ 1,6 bilhão (entre cartas consultas e projeto enquadrados).
“O setor vinha de certa forma antecedendo a crise mundial. Os projetos começaram a ser postergados na virada de 2007 para 2008. Agora, as intenções de investir estão voltando”, afirma o representante do BNDES.
Ainda que os desembolsos para 2010 se mantenham estáveis em relação a este ano, a maior parte deles deve incorporar melhorias nas usinas já existentes. “Os projetos novos (greenfields) devem crescer do final de 2010 para 2011”, avalia Sérgio Leme, presidente da Dedini Indústria de Base, de Piracicaba (SP). Para ele, até mesmo por conta do forte movimento de consolidação em curso, é razoável que os grandes players busquem, em um primeiro momento, melhoria dos ativos adquiridos.
“Uma vez que se comprou a usina, o foco é fazer investimento de curto prazo, modernizar os ativos para que eles tragam o melhor resultado”, acrescenta o presidente da Dedini, que, em sua carteira sucroalcooleira para 2010, tem de 25% a 30% de projetos de usinas novas.
Cavalcanti, do BNDES, concorda que a consolidação de usinas ajudou a reestruturar financeiramente o setor. Sem citar números, ele garante que a inadimplência de usinas é baixa no banco. “Nas operações indiretas, acompanhamos as renegociações do setor com os bancos comerciais. Como trata-se de um processo muito dinâmico, é difícil ter uma posição numérica. Mas, certamente, corrigir esses indicadores de alavancagem vai demorar mais um tempo”, diz.
Apesar desse cenário, o desafio de injetar em um ano mais R$ 6 bilhões em um setor altamente alavancado é visto com otimismo pelo executivo. “Os balanços de safra vão refletir positivamente os preços do açúcar. Além disso, não podemos esquecer que a política do BNDES é de avaliar o negócio em uma perspectiva de longo prazo. Somente 25% da frota de veículos do país é flex-fluel. Há espaço para crescer”.
Os desembolsos de 2009 tiveram praticamente o mesmo perfil dos realizados em 2008. Dos R$ 5,7 bilhões até dezembro, R$ 3,1 bilhões foram para produção de etanol (ante R$ 3 bilhões em 2008) e R$ 1,6 bilhão para açúcar (contra R$ 1,8 bilhão em 2008). Os financiamentos para co-geração de energia recuaram de R$ 854 milhões para R$ 395 milhões e os de cultivo de cana-de-açúcar se mantiveram estáveis na casa dos R$ 600 milhões.