Acendeu a luz amarela no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O banco vem monitorando o mercado de crédito à exportação e tem conversado com agentes privados para definir, ainda no primeiro trimestre de 2012, se será necessária uma ação mais forte da instituição no apoio ao exportador por meio das linhas de pré-embarque, que financiam a produção do bem a ser embarcado. A análise se dá em um cenário de recuo da oferta e da demanda por linhas comerciais, caso do Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC).
“Olhamos os sinais [do mercado] com preocupação, mas sem senso de urgência”, disse Luciene Machado, superintendente da área de exportações do BNDES. Um indicativo para o banco analisar eventuais mudanças no pré-embarque é justamente a redução das linhas comerciais que financiam o comércio exterior. Nos últimos meses, o BNDES manteve reunião com a comissão de repasses da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que reúne os agentes financeiros do BNDES.
Se for preciso, como já ocorreu no passado, inclusive na crise de 2008, o BNDES pode melhorar o custo da linha de pré-embarque, aumentar o prazo e incluir um maior número de produtos em condições mais vantajosas. O pré-embarque financia bens de capital com prazo de 24 meses e no Revitaliza, programa lançado este ano para apoiar setores mais afetados pelo câmbio, como têxteis e calçados, o prazo é de 18 meses.
O Revitaliza teve destinados R$ 2 bilhões para apoiar exportações, via pré-embarque, até 2013, dos quais o BNDES já recebeu cerca de R$ 1 bilhão em pedidos de crédito. A expectativa do banco é desembolsar esse valor ainda este ano. O programa tem juro fixo de 9% ao ano em reais, mas a contratação está limitada a US$ 50 milhões por grupo econômico.
Caso o BNDES venha a alterar as condições do pré-embarque, estará repetindo ações semelhantes tomadas no passado para sustentar a economia em períodos adversos. Após a crise de 2008, foi lançado o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) com juros de 5,5% ao ano para bens de capital na linha de pré-embarque. O apoio à exportação de máquinas e equipamentos foi renovado no PSI, mas o custo subiu para 9% ao ano.
Luciene Machado disse que o banco deve continuar a analisar as condições de mercado por dois ou três meses para ter um diagnóstico mais preciso e poder formular proposta à diretoria, possivelmente em março. Ela disse que o comitê de planejamento da instituição vai se reunir este mês para definir o horizonte de 2012.
A previsão da área de exportação do BNDES é desembolsar este ano cerca de R$ 11 bilhões, entre operações de pré-embarque e de pós-embarque, que financiam obras de infraestrutura e bens de capital pesados. A estimativa considerou um câmbio médio de R$ 1,65 por dólar. Em dólares, o desembolso do BNDES-Exim, como é conhecida a área de exportação do BNDES, deve ficar em US$ 6,7 bilhões, dos quais US$ 4 bilhões no pré-embarque e US$ 2,7 bilhões no pós-embarque. De janeiro a outubro, os desembolsos dos Exim totalizaram US$ 4,8 bilhões.
Caso a projeção se confirme, os desembolsos cairão cerca de 40% sobre 2010. A queda será motivada pelo fato de o banco ter feito tranche importante de desembolsos no pré-embarque, no ano passado, a taxas de juros mais baixas, para um grupo de produtos de bens de consumo.
Um executivo que preferiu não se identificar disse que o BNDES vem conversando com agentes financeiros para sentir a situação das linhas externas. Essas linhas escassearam com as turbulências na Europa. Recente matéria do Valor mostrou que o financiamento à exportação caiu quase pela metade na última semana de outubro e na primeira de novembro. A conta considerou a média diária de concessão de ACCs.
A fonte disse que muitas empresas estão receosas de assumir compromissos de exportação frente à crise mundial. E previu que se o banco abrisse novamente o pré-embarque para um leque amplo de bens de consumo haveria grande demanda, mas disse não acreditar nessa hipótese.