Ao mesmo tempo que espera pela garantia dos incentivos fiscais do governo uruguaio para iniciar as obras da fábrica no país vizinho, a Laticínios Bom Gosto prepara-se para lançar um programa destinado a reduzir a ociosidade das plantas no Brasil. O chamado “Plano 300” pretende elevar a produtividade média de no mínimo cinco mil produtores de leite, de menos de 200 para 300 litros por dia num prazo de dois a três anos, disse ontem o diretor-presidente da empresa, Wilson Zanatta.
Segundo ele, a empresa deve ter receita bruta de R$ 2 bilhões neste ano, ante R$ 1,6 bilhão em 2009, devido à consolidação da Cedrense (SC), da unidade da Nestlé em Barra Mansa (RJ) e da Parmalat em Garanhuns (PE), adquiridas em 2009. A projeção é R$ 200 milhões menor do que a estimativa inicial devido à queda nos preços do leite e derivados, disse Zanatta. Já a captação total do ano deve crescer de 5% a 10% sobre os 1,224 bilhão de litros de 2009.
No Uruguai, a Bom Gosto planeja construir uma fábrica com capacidade inicial de 600 mil litros por dia para produzir leite em pó para exportação. Dois anos após o início da operação, a meta é alcançar um faturamento local de R$ 200 milhões anuais e ampliar a capacidade para 1 milhão de litros/dia com a introdução de uma linha de queijos.
Em junho, a empresa pediu ao Ministério da Economia do Uruguai a “declaração de interesse nacional” para o investimento orçado em US$ 30 milhões, o que, se aprovado, proporcionará isenção temporária de imposto de renda sobre a importação de equipamentos.
A Bom Gosto também negocia o financiamento de parte do projeto com o Banco da República Oriental do Uruguai (BROU). A empresa anunciou a intenção de se expandir para país vizinho em agosto de 2007, mas o primeiro terreno adquirido para as instalações, em San Jose de Mayo, teve que ser substituído por outro na mesma cidade porque não dispunha de água subterrânea suficiente para suprir a operação.
No Brasil, enquanto permanece “atento” a novas oportunidades de aquisições ou fusões “estratégicas”, Zanatta busca preencher a capacidade atual de processamento de 6 milhões de litros de leite por dia em suas 22 plantas em três anos. Hoje a ociosidade média equivale a um terço da capacidade e boa parte da meta será perseguida com o “Plano 300”, a ser deflagrado este ano.
Segundo Zanatta, o programa prevê a realização de diagnósticos das propriedades que aderirem à iniciativa e o apoio da Bom Gosto na liberação de financiamentos para investimentos em correção de solo, instalações e genética, com dois anos de carência e seis para pagamento. A operação, incluindo juros, está sendo negociada com o Sicredi, o Banrisul, o Banco do Brasil e o BNDES, que detém 33% do capital da empresa por meio da BNDESPar.
A Bom Gosto recebe leite de 20 mil produtores diretos (e de outros 8 mil por intermédio de cooperativas). Destes, apenas 20% fornecem 70% do total de leite captado enquanto 16,5 mil produzem menos de 200 litros por dia. “Para garantir o patamar mínimo de rentabilidade e a manutenção da propriedade no longo prazo são necessários 300 litros diários”, explicou o diretor de política leiteira da empresa, João Carlos Barbieri. Com esse nível de produtividade, o produtor tem uma renda bruta de R$ 6 mil e líquida de R$ 1,8 mil.