O Brasil lidera a recuperação econômica na América Latina, será o país de maior crescimento em 2010, mas tem de tomar cuidado para não subir os juros prematuramente e abortar essa tendência, avalia o diretor da Divisão de Desenvolvimento Econômico da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), Osvaldo Kacef. A Cepal divulgou ontem (10/12) seu “Balanço Preliminar sobre as Economias da América Latina e Caribe”, com previsões mais otimistas sobre o crescimento na região no próximo ano. A economia dos países da América Latina deve ter, em média, queda de 1,8% neste ano e crescerá 4,1% em 2010.
O Brasil crescerá 0,3% neste ano e 5,5% no ano que vem, segundo prevê a Cepal. Para divulgar o relatório, a Cepal esperou receber do Brasil os valores revistos do IBGE para recalcular os números para toda a região, contou Kacef ao Valor, por telefone. A entidade estava ainda mais otimista em relação ao Brasil: previa 6% de crescimento em 2010 e 0,6% neste ano.
“Dependíamos dos números do IBGE, porque o Brasil pesa muito na região”, comentou Kacef, que previa, antes, aumento de 4,3% no Produto Interno Bruto (PIB) dos países da América Latina. O crescimento do Brasil tem impacto fundamental nas perspectivas para os países do Cone Sul, como a Argentina, disse. “O Brasil começou uma recuperação no segundo trimestre, que continua no terceiro e deve seguir no quarto”, prevê Kacef. “O país chegará ao fim do ano crescendo 6% a 7% em termos anualizados, não terá dificuldade em atingir 5,5% em 2010.” Será a maior taxa da região, seguida por Uruguai e Peru, com 5%.
Para Kacef, um dos trunfos do Brasil, além do mercado interno e da diversificação do mercado externo, foi a capacidade de usar instrumentos não disponíveis na vizinhança, como o grande volume de crédito dos bancos públicos, para ativar o consumo . “O Brasil é o único em que os bancos públicos respondem por 35% do crédito, o que permite uma política agressiva nesse campo”.
A possibilidade de usar instrumentos creditícios permitiu ao governo brasileiro aumentar os gastos em níveis bem inferiores aos dos outros países. Apesar das críticas internas ao aumento dos gastos públicos, o Brasil está entre os que menos aumentaram as despesas correntes e de capital, cerca de 1,2% nos primeiros nove meses do ano, segundo cálculo da Cepal. O Chile aumentou em 3,2%, a Argentina, 2,7% e o México, 1,6%.
O Brasil optou por diminuir mais impostos que outros países, o que permitiu efeito fiscal equivalente sem tanto aumento de gastos, diz Kacef. “O Brasil fez algo inteligente e bem feito, como a bem-sucedida redução temporária de impostos para a indústria automotiva”, exemplifica o economista, que aponta reflexos positivos da medida também para a Argentina.
O Brasil se destaca negativamente, porém, na formação bruta de capital fixo, indicador que mede o volume de investimentos na produção. Em 2009, o indicador deve ficar em 16% do PIB, bem abaixo dos 26% a 27% necessários para garantir crescimento com folga, segundo Kacef. “Por enquanto, a capacidade ociosa em toda a região permite o crescimento, sem pressões inflacionárias ou na balança comercial, até o fim de 2010”. Mas será necessário criar estímulos ao investimento e, por isso, o país deve evitar açodamento na elevação dos juros e olhar com cuidado a excessiva valorização do real frente ao dólar, alerta.
Segundo a Cepal, o cenário futuro para os países latino-americanos ainda traz incertezas, porque incluirá retração no consumo dos países ricos, risco de maior seletividade nos créditos, maior disputa por mercados e maior presença dos países emergentes.