Redação (24/11/06) – Em troca da reabertura do mercado russo à carne suína catarinense, o governo federal pretende comprar US$ 1,5 bilhão em produtos daquele país. A estratégia vem sendo negociada, em sigilo, há 10 dias com o Kremlin.
O Brasil acena com a importação de fertilizantes, turbinas hidrelétricas e trigo. Segundo o setor privado, só a compra de fertilizantes, que no ano passado alcançou US$ 800 milhões, já seriam suficientes para cobrir o déficit da balança comercial com a Rússia.
– Vamos tentar encontrar uma maneira de aumentar a nossa pauta de importações e assim forçar a retomada de compras de carne suína confidenciou um integrante do alto escalão do Ministério do Desenvolvimento e da Indústria.
O governo se comprometeu ainda a enviar, em menos de dois meses, uma nova missão comercial à Rússia. O objetivo é concluir as negociações em torno da proposta brasileira.
A iniciativa foi comunicada ontem à noite ao governador Eduardo Pinho Moreira durante audiência com o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho. Pinho Moreira viajou à Brasília, acompanhado por uma comitiva de mais de 10 empresários, parlamentares e suinocultores. Eles buscavam uma solução urgente para o embargo, sob pena de aumento dos prejuízos aos produtores catarinenses. De acordo com dados do governo, as perdas somam US$ 265 milhões.
O otimismo de Ramalho com a expectativa de entendimento com o governo russo, porém, não é compartilhado por Pinho Moreira. Segundo o governador, a derrubada do embargo esbarraria ainda em questões políticas, não dependendo apenas de incrementos comerciais na relação entre os dois países. Pinho Moreira lamenta que, mesmo Santa Catarina sendo o único Estado livre de febre aftosa sem vacinação, ainda existam empecilhos às exportações da carne suína.
– Já falei duas vezes com o presidente Lula sobre essa questão e, mesmo depois de ele ter conversado com (presidente russo Vladimir) Putin, nada foi feito. É um enigma – desabafou o governador.
Para o deputado Odacir Zonta (PP-SC), que participou das reuniões, as dificuldades para reabertura do mercado russo ocorrem por falhas tanto do governo federal quanto estadual.
– Esse assunto não pode mais ser tratado como problema regional. Tem de ser uma questão nacional, com a participação mais ativa do Ministério das Relações Exteriores – aponta o coordenador da Fórum Parlamentar Catarinense.
Entre janeiro e setembro deste ano, o Brasil exportou para a Rússia mercadorias no valor de US$ 2,313 bilhões. Os produtos mais vendidos foram açúcar-de-cana (US$ 894 milhões), carne bovina congelada (US$ 397 milhões) e carne de porco (US$ 335 milhões).