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Brasil busca acordos após fracasso de Doha

<p>As negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC) foram rompidas diante da ausência de compromisso das maiores potências.</p>

Redação (25/07/06)- As negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC) foram rompidas diante da ausência de compromisso das maiores potências para a tomada de medidas que liberalizassem o comércio de bens manufaturados e agrícolas. Assim, a retomada das negociações pode levar de “meses a anos”, avaliou o ministro do Comércio da Índia, Kamal Nath.

O colapso total das negociações se confirmava na madrugada de ontem. Domingo, depois de mais de 14 horas de reuniões, os ministros dos seis principais atores da OMC (Brasil, Índia, Estados Unidos, União Européia, Japão e Austrália), não conseguiram desbloquear o processo da Rodada Doha.”Trata-se de um recuo sério”, comentou o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorin.

Sem o acordo na OMC, Amorim admite que está agora “aberto” a voltar a negociar acordos bilaterais e regionais. O ministro, porém, insiste que esses acordos não são substitutos à OMC. Para diplomatas, o fracasso em Genebra obrigará vários países a repensar suas estratégias comerciais.

No caso do Brasil, Amorim admite que estaria na hora de pensar em uma retomada das negociações para a criação de um bloco comercial entre o Mercosul e a União Européia (UE). Mariann Fischer Boel, comissária agrícola da Europa, é da mesma opinião e acha que o processo deve ser relançado antes do final do ano. O Itamaraty é criticado por alguns setores produtivos por não ter conseguido fechar acordos com as maiores economias nos últimos anos.

As negociações entre o Mercosul e a UE estão virtualmente paralisadas desde 2004 e, a partir daí, as várias tentativas de reativar o processo esbarraram nas diferenças entre os dois blocos.
“Quando estávamos a ponto de concluir a rodada da OMC, não fazia muito sentido continuar a negociação com a Europa. Agora, me sinto aberto para esse tipo de acordo”, afirmou Amorim. Segundo ele, não existem problemas “conceituais” entre o Mercosul e a União Européia, mas apenas dificuldade em termos do grau de abertura de cada setor. “Podemos e até devemos retomar essas negociações”, disse.

Alberto Dumont, embaixador da Argentina na OMC, admite que o Mercosul terá de repensar suas estratégias. Já Peter Mandelson, comissário de Comércio da Europa, é mais cauteloso e afirma que ainda “é muito cedo para dizer” se o processo bilateral deve ser relançado. “Vamos digerir antes o que ocorreu aqui na OMC, pois será uma digestão difícil”, afirmou.

Amorim ainda aponta que poderia repensar a possibilidade de voltar a negociação com os Estados Unidos. Sua preferência, porém, não seria a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), mas um acordo 5 + 1, ou seja, um entendimento entre o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela) e os Estados Unidos.

A representante de Comércio da Casa Branca, Susan Schwab, admitiu ontem que os americanos buscariam acordo de todas as formas. “Queremos ser ambiciosos no âmbito multilateral, regionais e bilaterais”, afirmou. Outra opção é a de aprofundar os acordos com a Índia e África do Sul.

Em setembro, os três países se reúnem em Brasília e a diplomacia de Nova Déli acredita que está na hora de um acordo de livre comércio. Questionado sobre um possível acordo com a China, Amorim é mais cauteloso. “Vamos devagar”, disse. O chanceler deixa claro que, apesar da busca por acordo, a prioridade do Brasil sempre será a OMC. “Não há substituto para a OMC. Nenhuma dessas outras negociações pode obter aquilo que temos de obter aqui, que são regras equilibradas de comércio e corte de subsídios”, afirmou.