Os países em desenvolvimento não podem ficar “reféns de visões ultrapassadas” no combate à crise financeira internacional, disse a presidente Dilma Rousseff, ao encerrar ontem o encontro dos chefes de Estado do Ibas, o grupo formado por Índia, Brasil e África do Sul. Ela condenou as propostas que possam levar a “processos recessivos”, e, como o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, e o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, cobrou dos países ricos ação imediata para solucionar as dificuldades de pagamento das dívidas dos países europeus.
“É indispensável, sim, uma ação dos governos, em quadro de instabilidade fiscal, de equilíbrio financeiro e solidez bancária”, disse a presidente em seu discurso, defendendo a intervenção estatal “para estimular o crescimento econômico, juntamente com políticas sociais de geração de renda e emprego”.
No discurso e, em seguida, em pronunciamento à imprensa, Dilma repetiu que “processos recessivos jamais conduziram país algum a sair das crises e do desemprego”. O indiano Singh também fez um apelo para que os países ajam para evitar a paralisação das economias e um duplo mergulho na recessão mundial.
Bem mais enfática que os outros dois chefes de Estado, Dilma disse ser “inadiável” a reforma do sistema financeiro e “fundamental” acabar com “políticas monetárias que provocam uma verdadeira guerra cambial e estimulam o protecionismo”. Para mostrar que a intervenção estatal não entra em contradição com a responsabilidade dos governos, defendeu a “consolidação fiscal e a solidez dos sistemas bancários”.
Como antecipou ontem o Valor, a declaração final dos chefes de Estado, um prolixo documento de 102 itens e 24 páginas, propõe que na escolha do próximo presidente do Banco Mundial seja usado um critério aberto, transparente e baseado em mérito – uma forma de rejeitar a exclusividade informal mantida no posto para indicados dos Estados Unidos. Dilma alertou que, na próxima reunião do G-20 (o grupo das economias mais influentes), em novembro, os países do Ibas cobrarão medidas imediatas contra a crise, “em especial na zona do euro”.
“É necessário um acordo credível entre os países europeus para impedir que a crise fique incontrolável, afetando o mundo inteiro”, disse a presidente. Singh queixou-se dos sinais negativos enviados pelos EUA, Europa e Japão, que, segundo argumentou, afetam a habilidade dos países em desenvolvimento de lidar com a crise.
“O desafio apresentado pela crise impõe a substituição de teorias defasadas de um mundo velho por novas formulações para este mundo novo que agora nós vivemos”, concordou Dilma, ao defender a ação estatal antirrecessiva contra a crise.
“Não podemos ficar reféns de visões ultrapassadas ou de paradigmas vazios de preocupação social, em relação ao emprego e em relação à riqueza dos povos”, insistiu a presidente, no discurso de encerramento da cúpula, que, por deficiência da organização sul-africana, não chegou a ser traduzido para o inglês para a imprensa, mantida em uma sala afastada.
Dilma chegou a mencionar a previsão de aumento no comércio entre os três países, hoje em torno de US$ 16 bilhões, para US$ 30 bilhões em 2015. Por precaução, os chefes de Estado preferiram comprometer-se com uma meta mais modesta, US$ 25 bilhões.