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Economia

Brasil contra o câmbio

Mantega "corrige" Dilma e fala em medidas duras para o câmbio, apesar da crise dos governos nos países mais ricos do globo.

Em dois dias, o governo federal demonstrou falta de comunicação interna entre seus principais atores a respeito de um tema delicado, o câmbio. Na sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff afirmou a jornalistas que medidas para evitar a valorização do câmbio estão descartadas até que o cenário externo melhore. Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o governo tem “medidas duras” para o câmbio. As declarações de Dilma, divulgadas no início da noite de sexta-feira, impulsionaram nova rodada de valorização do real ontem, quando a moeda fechou cotada a R$ 1,54 – o menor valor desde 1999, início do regime de câmbio flutuante. Mantega, que há duas semanas disse estar “perdendo o sono” com o câmbio, parece ter tentado, portanto, “corrigir” as afirmações de Dilma.

O ministro, no entanto, não detalhou qualquer medida. “Estamos com medidas duras nesse sentido [de reverter a valorização do câmbio. Não antecipamos, mas podem esperar”, afirmou Mantega, após participar de debate junto a empresários, ontem, em São Paulo.

O cenário externo, apontado pela presidente como barreira para novas medidas anti-valorização do câmbio, foi alvo de boa parte da apresentação que o ministro preparou aos empresários. “A crise dos governos nos países ricos ainda vai se prolongar por três anos”, afirmou Mantega, que prevê para 2015 o fim do período de crescimento fraco nos países ricos – para Mantega, taxas próximas a 2% de avanço do Produto Interno Bruto (PIB) configuram crescimento fraco.

“A crise de 2008 era financeira, e a que vivemos agora é de endividamento público. A elevação do teto da dívida americana, que deveria ser um assunto de fácil resolução, está evidenciando uma enorme insensatez”, afirmou Mantega. O governo americano atingirá nesta sexta-feira o limite de endividamento público (US$ 14,3 trilhões) e, caso o teto da dívida não seja ampliado pelo congresso, o governo Barack Obama não poderá mais se endividar para financiar seus gastos. “Acredito que o bom senso prevalecerá, mas, caso o teto não seja renovado”, disse Mantega, “os americanos poderão levar o mundo a uma situação crítica mais uma vez”.

O ministro da Fazenda também dissociou a política cambial do controle de preços, apesar de o dólar barato reduzir os preços dos importados. “Não utilizamos o câmbio para controlar a inflação”, disse o ministro, reafirmando que a manutenção da inflação dentro da banda anual perseguida pelo Banco Central (entre 2,5% e 6,5%, pelo IPCA) é “fundamental para o governo Dilma”.

Se no câmbio Mantega e Dilma foram para lados opostos, no combate à inflação o discurso foi afinado em torno do objetivo de mantê-la dentro da meta do BC e, ao mesmo tempo, garantir um elevado patamar de crescimento. Na sexta-feira, a presidente afirmou que o governo não quer inflação sob controle com crescimento zero. “Estamos fazendo um pouso suave, com uma taxa de crescimento e de emprego adequadas para o país”, disse Dilma a jornalistas, em reunião fechada.

Ontem, Mantega foi na mesma linha. “Antigamente o governo segurava a inflação derrubando a economia. Não fazemos isso. Já há um pouso suave na inflação, puxada por uma economia menos acelerada. O problema não é de superaquecimento do Brasil, mas de subaquecimento dos países ricos”.