Ao mesmo tempo em que tenta conter uma avalanche de importações de produtos lácteos, o Brasil negocia uma “integração produtiva” com a Argentina para abrir novos mercados ao segmento em outros países, sobretudo na União Europeia. Os termos do acordo com os argentinos, até aqui mantidos sob reserva pelo governo, preveem a concessão de financiamentos de longo prazo às indústrias dos dois países para a formação de “joint ventures” bilaterais. O BNDES e o Banco de La Nación devem financiar as operações de 15 empresas de cada lado.
No início, o Brasil tentou incluir no acordo os mercados domésticos locais, mas industriais nacionais resistiram e rejeitaram a discussão. Os dois governos vinham brigando nos bastidores em razão da forte elevação das importações de lácteos desde 2009. Até outubro, as compras brasileiras somaram US$ 230,7 milhões, volume próximo aos US$ 264,8 milhões registrados em todo o ano de 2009.
O Brasil impôs um acordo aos argentinos que limita a importação a 3 mil toneladas mensais ao preço mínimo em dólar praticado na Oceania. Além disso, conseguiu elevar, de 14% para 28%, a Tarifa Externa Comum (TEC) do bloco até o fim de 2012. O Congresso também entrou na briga e aprovou uma “mini CPI” para investigar “importações predatórias” de lácteos.
Para frear as divergências, os presidente Lula e Cristina Kirchner selaram um pacto político. O acordo, ainda em negociação, pode estabelecer cotas, volumes e preços para a venda conjunta de leite em pó, queijos e longa vida a terceiros mercados. O Brasil quer usar o texto para dar um “salto de qualidade”, replicando aqui a tecnologia e os padrões platinos, além de adequar as fábricas a exigências internacionais, pegar carona em acordo sanitários e igualar os processos de certificação – a Argentina exporta à UE.
Selado o acordo, que deve ser finalizado em fevereiro de 2011, o Brasil poderá fornecer matéria-prima para a fabricação de queijos finos na Argentina. Nessa linha, podem ser feitos outros produtos para determinados nichos. No segmento de vinhos, por exemplo, uma indústria brasileira pode plantar uva na Argentina e envasar a bebida por aqui.
Sem detalhar o assunto, o Ministério do Desenvolvimento informa apenas que “as empresas estão sendo mapeadas e ainda não sabe se serão 15 de cada lado”. E afirma que o acordo ajudará na “prospecção de terceiros mercados”. A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), ligada ao MDIC, dá pistas de avanços: “Estamos mapeando projetos com viabilidade para discutir o financiamento com os bancos”, diz a assessora especial da Gerência Internacional, Patrícia Favaretto.