O Brasil se aliou aos Estados Unidos no G-20 pela adoção de um plano de ação imediato que favoreça estímulos à economia mundial, em vez de consolidação fiscal rápida e simultânea na Europa, que resultaria em mais contração.
Os europeus, por sua vez, dizem não ter margem de manobra e querem o aumento de recursos para o Fundo Monetário Internacional (FMI) socorrer as economias mais combalidas da zona euro. Só que ao mesmo tempo rejeitam abrir mão de poder decisório em favor dos emergentes na entidade.
Com a crise da zona do euro no centro da agenda, ministros de finanças e presidentes de bancos centrais dos principais países desenvolvidos e emergentes fazem amanhã e sábado a última reunião para esboçar o Plano de Ação de Cannes.
Esse plano que os líderes do G-20 pretendem anunciar na cúpula de 3 a 4 de novembro continua causando diferenças no grupo sobre qual tipo de ação imediata ou de médio prazo deve ser adotada para assegurar a recuperação da economia global.
Em recente reunião em Paris, quando a França indagou aos países do G-20 qual compromisso cada um iria assumir, a resposta foi um silêncio geral e embaraçoso.
Um elemento central serão prescrições em áreas como política fiscal, excedente de contas correntes, taxas de câmbio e reformas estruturais com as quais economias ‘sistemicamente significativas’ – EUA, China, França, Alemanha, Índia, Japão e Reino Unido – devem se comprometer.
Mas o ministro de Economia da França, François Baroin, que preside as negociações, defende a participação de todo o G-20, embora com respostas diferenciadas. “O G-20 precisa tomar medidas relevantes, com cada um adotando compromissos com prazos para implementá-los”, disse ao Valor um auxiliar do presidente Nicolas Sarkozy.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou ontem a Paris e vai martelar a necessidade de que o país que tiver espaço precisa promover o emprego e distribuir renda, afim de gerar demanda e retomada do crescimento.
Já os europeus, liderados pela Alemanha, têm enfoque de médio prazo na consolidação fiscal e redução das dívidas. A França alega que os países da zona euro não têm muita margem de manobra.
O presidente da Comissão Europeia, José Manoel Barroso, decepcionou ontem os mercados com seu plano de recapitalização dos bancos europeus para restaurar a confiança na zona do euro. Barroso fez constatações óbvias e com pouca substância. A falta de detalhes dos planos europeus pode se sentir também na reunião dos ministros do G-20 em Paris.
Os EUA e europeus se aliam, por sua vez, para manter a pressão sobre a China e agora sobre países como a Coreia do Sul para que ponham fim a seus regimes de “taxas de câmbio inflexíveis”.
Já a China enfatiza a necessidade de as economias avançadas, em particular os EUA, implementarem o compromisso adotado no G-20 de Toronto em 2010, para reduzir déficits pela metade até 2013 e estabilizar ou reduzir a dívida em relação ao PIB até 2016.
Além das prescrições de um plano de ação imediato, os ministros vão se defrontar com o pedido de aumento de recursos para o FMI. Os emergentes, que até recentemente se mostravam dispostos a ajudar no socorro da zona do euro, agora insistem que a fatura é cara: querem desta vez realmente aumentar seu poder no fundo. A Europa, que seria a principal perdedora, quer dinheiro mas não perder poder.