Da Redação 16/06/2005 – O governo brasileiro decidiu dar uma “mãozinha” ao governo dos Estados Unidos justamente num setor onde as relações bilaterais são normalmente antagônicas e tumultuadas: a agropecuária.
Uma delegação oficial do Brasil começará hoje, na capital Washington, um processo de convencimento para “neutralizar” o poderoso lobby agrícola encravado nas principais instâncias parlamentares dos EUA. A reunião entre representantes dos governos e dos setores privados foi marcada para discutir temas de política agrícola.
Uma fonte com acesso às negociações prévias à reunião bilateral disse ao Valor que a visita da delegação brasileira tentará mostrar que não há subsídios ou incentivos ilegais por trás da forte expansão da produção nacional de grãos – sobretudo, da produção de soja, que tanto tem incomodado os produtores americanos.
Os brasileiros devem apresentar argumentos “avalizados” por estudos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pela revisão quadrienal feita pela própria Organização Mundial do Comércio (OMC) nos programas adotados pelo Brasil. A delegação é chefiada pelo secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Ivan Wedekin.
Na semana passada, a OCDE, clube dos 30 países mais ricos do mundo, apresentou, em Paris (França), um estudo minucioso onde demonstra que o crescimento da produção e das exportações do Brasil não é turbinado por subsídios. O estudo da OCDE, antecipado pelo Valor há duas semanas, constatou que os subsídios concedidos à agricultura brasileira representam apenas 3% do valor da produção total – nos EUA, o índice sobe a 17%.
A fonte do governo informou que o encontro será focado na soja porque, recentemente, a cultura serviu como pano de fundo para acusações mútuas de concessão de subsídios. Descontentes com a instabilidade dos preços internacionais do produto, produtores brasileiros de soja chegaram a pedir ao governo a abertura de uma comitê de arbitragem na OMC contra os pesados subsídios americanos à sua produção. A medida segue em estudo no Itamaraty e no Ministério da Agricultura.
Mas, apesar da importância da reunião, o atraso nos vôos de uma companhia americana que levaria parte da delegação do Brasil a Washington pode postergar o encontro para amanhã ou até mesmo para outra data.