A brusca oscilação do dólar nos últimos dias não assustou o ex-ministro da Fazenda, Antonio Delfim Netto, que não vê o risco de o Brasil sofrer uma nova crise cambial. “Estamos razoavelmente protegidos, não só pelas reservas internacionais, mas porque o mercado tende a se acomodar. O câmbio produz desequilibrio primeiro e equilibrio depois. Uma crise é muito pouco provável”, afirmou ao participar nesta segunda-feira do 8º Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Para Delfim, o Banco Central (BC) está desempenhando seu papel, que segundo ele, é o de prover liquidez ao mercado. “O governo adquiriu um instrumento e vai usá-lo quando achar necessário, com implicações importantes para a segurança do mercado”, comentou, referindo-se à retomada das operações de swap cambial, que equivalem à venda de dólares no mercado futuro. Desde 2009 que o Banco Central não utilizava esse recurso para conter a valorização da moeda americana, que na semana passada chegou a ultrapassar R$ 1,90, o maior patamar em mais de um ano.
Questionado sobre a hipótese de o BC ter demorado para agir, Delfim indicou que a decisão da autoridade monetária foi ajustada. “O BC esperou um sinal amarelo para agir”, comentou. “Enquanto a taxa de juros interna não for igual à externa, não vamos resolver o problema do câmbio. Não foram as medidas de controle de capital que fizeram essas mudanças no câmbio. Essa valorização do dólar não tem nada a ver conosco. Tem a ver com o cenário externo. Todas as moedas, com exceção do iene, se desvalorizaram”, complementou.
De acordo com o ex-ministro, o panorama internacional atual é delicado, com os Estados Unidos e a Europa enfrentando grandes desafios para estimular a economia. “O banco central americano está mostrando que não sabemos nada de política macroeconomica”, ressaltou, acrescentando que na Europa a questão é ainda mais complicada, já que será muito difícil promover os ajustes necessários.
“O diagnóstico do Tombini [Alexandre Tombini, presidente do Banco Central] foi o mais correto. Estou convencido de que ele está mais afinado com a realidade monetária do mundo e os instrumentos financeiros disponíveis para operar do que todos os economistas”, disse.