O Brasil já retirou da gaveta quase a metade dos R$ 100 bilhões em projetos de investimentos que haviam sido congelados depois da crise do banco de investimentos Lehman Brothers, em setembro de 2008.
É o que indica levantamento da área de pesquisa econômica do BNDES. Com base nesse levantamento, o banco oficial de fomento passou a estimar que a economia brasileira pode crescer 5% ou até mais em 2010.
O estudo foi elaborado com base em projetos anunciados, retomados ou cancelados tanto por empresas privadas como pelo setor público para o período 2009/2012.
“Do ponto de vista global, um ano após o início da crise, podemos ver que seu impacto nos investimentos acabou não sendo tão relevante no longo prazo”, disse Ernani Torres Filho, superintendente de pesquisa e acompanhamento econômico do banco.
No curto prazo, pelo menos, a crise interrompeu o crescimento dos investimentos visto ao longo de 2008. A taxa de investimentos como proporção do PIB do País caiu a 15,7% no segundo trimestre deste ano, a menor desde 2003.
O estudo do BNDES registra o ânimo de investimentos no Brasil em três momentos: pouco antes da crise, em agosto de 2008; no auge dela, em dezembro de 2008; e em agosto passado, com a percepção generalizada de que seus efeitos foram menos intensos no Brasil.
No primeiro momento, os investimentos mapeados estavam em R$ 781 bilhões. Com a crise, caíram para R$ 688 bilhões (redução de R$ 93 bilhões, ou 12%). No mês passado, voltaram a subir, para R$ 731 bilhões (alta de R$ 43 bilhões, ou 6%).
Houve uma recuperação notável do ânimo empresarial especialmente nos setores de energia, petroquímica e infraestrutura, três setores regulados pelo Estado ou protagonizados por estatais. Nessas três áreas, a perspectiva de investimentos medida em agosto é ainda maior do que visto antes da crise, em agosto de 2008.
Os investimentos em energia ganharam musculatura com as reservas de petróleo do pré-sal e o avanço da construção das hidrelétricas do rio Madeira.
Em petroquímica, foram robustecidas com o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro e a Companhia Petroquímica de Pernambuco.
No setor de infraestrutura, o aumento da disposição em investir deve-se ao amadurecimento do projeto do trem-bala, orçado em R$ 35 bilhões, e à aceleração nas concessões de rodovias, principalmente no Estado de São Paulo.
A mão do Estado – Segundo os economistas Fernando Pimentel Puga e Gilberto Rodrigues Borca Junior, responsáveis pelo estudo, a solidez dos investimentos em energia e infraestrutura pode ser explicada pela forma como o governo tem atuado. “Grande parte dos projetos mapeados está relacionada a metas fixadas por meio de leilões, concessões e autorizações ao setor privado para exploração de serviços públicos.”
Já nos setores exportadores, os efeitos da crise continuam reduzindo a disposição de investir. No setor extrativo mineral (dominado pela Vale), os planos efetivos de investimentos para 2009/2012 mantiveram-se em queda até agosto passado, segundo o estudo.
Eles partiram de R$ 72 bilhões antes da crise, atingiram R$ 52 bilhões em dezembro e caíram ainda mais em agosto passado, para R$ 46 bilhões – redução de R$ 26 bilhões.