A indústria brasileira de cana-de-açúcar não enfrenta qualquer dificuldade para fornecer etanol em volumes suficientes para atender o mercado interno, e pode ampliar exportações do biocombustível desde já se houver demanda, sem prejuízo para o consumidor brasileiro. A posição da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) foi divulgada após depoimento do provável novo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, ao Comitê de Relações Exteriores do Senado americano na quarta-feira (08/07).
Indicado pela Casa Branca para assumir o posto em Brasília, Shannon declarou que a eliminação da tarifa de US$0,54 por galão, imposta por Washington sobre o etanol importado, traria oportunidades de longo prazo para os dois países, podendo contribuir decisivamente para aumentar a segurança energética dos EUA e mitigar o aquecimento global. Mas ele acrescentou que a eliminação da tarifa seria oportuna no futuro: “não haveria um efeito imediato, pois a verdade é que o Brasil ainda não produz o suficiente para exportar em grande escala,” disse.
Para o representante-chefe da Unica na América do Norte, Joel Velasco, Shannon merece elogios por identificar os benefícios para ambos os países que a eliminação da tarifa americana traria. Porém, os dados usados por Shannon precisam ser atualizados. “Os preços do etanol praticados no mercado interno brasileiro estão muito baixos desde 2006, precisamente porque há um excesso de produto. Portanto o Brasil pode exportar mais etanol desde já, e muito mais no futuro”, afirmou Velasco.
O fim da tarifa não prejudicaria a indústria americana de etanol, segundo Velasco, porque a entrada de mais etanol brasileiro reduziria a volatilidade nos preços tanto do etanol quanto do milho, sem impactar preços a longo prazo de forma significativa. “É importante frisar que o etanol é um combustível renovável produzido a partir de uma planta, portanto é preciso plantar, colher e processar a cana antes de se ter o etanol, ao contrário do petróleo que só precisa ser extraído e refinado. O Brasil pode exportar mais etanol já, mas não poderia exportar grandes volumes sem um compromisso firme dos eventuais compradores. Sem isso, não faria sentido para os produtores brasileiros ampliar ainda mais a produção”, concluiu Velasco.
O representante da Unica em Washington destacou que o Brasil só não exporta mais etanol agora devido a barreiras tarifárias e também não-tarifárias impostas ao biocombustível mas não ao petróleo, que não enfrenta barreiras: “Não faz sentido dificultar o fluxo de um combustível limpo e renovável enquanto os fósseis transitam livremente. Se enfrentar o aquecimento global e os desafios da mudança climática é um objetivo sério para o mundo, é preciso reconhecer que o etanol representa uma forma já disponível para lidar concretamente com essa situação, ao invés de esperar por tecnologias caras que, em alguns casos, não chegarão a se tornar comercialmente viáveis.”
Shannon foi um dos responsáveis pela criação do Memorando de Entendimento Brasil-EUA para Cooperação em Biocombustíveis, assinado pelos presidentes Lula e Bush em março de 2007. O documento foi idealizado com o objetivo de estimular a produção e a integração da indústria de combustíveis renováveis presentes nos dois países. Outra missão do memorando é incentivar a produção de combustíveis limpos e renováveis em outros países, principalmente aqueles localizados em zonas tropicais da Ásia, África e América Latina.
A nomeação de Shannon como novo embaixador dos EUA no Brasil deverá ser votada no Senado americano até o final de julho.