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Brasil prepara-se para a China

<p>Oportunidade para exportar carnes suína e de frango para abastecer população urbana começa a se concretizar.</p>

Da Redação 14/07/2005 – A China está cada vez mais na mira dos países exportadores de carnes e produtos agrícolas.

Até 2020, cerca de 250 milhões de chineses migrarão do campo para a cidade, resultando num grande salto na demanda por proteína animal. A mobilização para garantir uma fatia nesse bolo já está ocorrendo. No Brasil, em junho, a Bolsa de Mercadorias & Futuros e a Câmara do Comércio da China promoveram um seminário, na capital, para discutir as oportunidades do mercado chinês para o País.

O pesquisador Daniel Rosen, do Instituto de Economia Internacional, dos EUA, disse que a demanda dos chineses será por frutas, legumes e carnes.
O secretário do Conselho Empresarial Brasil-China, Renato Amorim, cita também a tendência de uso da soja enriquecida na ração animal. “Assim, a soja processada, com valor agregado, é uma vantagem competitiva do Brasil.” No entanto, ele diz que falta transparência da China em relação à soja. E, na carne, ele diz que há dificuldades nas negociações, porque “são negociações técnicas, que requerem especialistas”. Outros mercados atraentes são couro e madeira processada. “O Brasil tem se destacado como maior fornecedor de couro para a China, país que está se capacitando também para ser o maior produtor mundial de móveis.”

INTERESSE NA SOJA

Na prática, em 2004, a China manifestou interesse em investir em infra-estrutura (rodovias e ferrovias) no Brasil, com pagamento feito em soja, conforme o diretor do Departamento de Assuntos Sanitários e Fitossanitários da Secretaria de Relações Internacionais de Agronegócio do Ministério da Agricultura e Pecuária, Odilson Ribeiro.

Ele também destaca o interesse chinês pelo álcool e informa que em 2004 várias comitivas estiveram no País, visitando usinas. Ribeiro diz também que há interesse em concluir entendimentos sanitários, para ampliar a venda de carnes, e fitossanitários, para frutas.

No frango, a situação está mais adiantada. No começo deste ano, o governo chinês formalizou a autorização para a abertura de seu mercado à carne de frango do Brasil. Segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Exportadores de Frangos (Abef), Cláudio Martins, a expectativa é a de que as exportações para o país alcancem, no primeiro ano, de 80 mil a 100 mil toneladas de frango em cortes, principalmente asas e pés, um negócio de até US$ 80 milhões. Ele afirma que a China tem uma demanda anual de 200 mil a 300 mil toneladas de frango. “Estamos na fase de acessar o mercado”, diz Martins. Ele acrescenta que, no mês passado, ficou a acertada a vinda de uma comitiva chinesa ao Brasil e a ida de brasileiros ao país, visando à inspeção e à aprovação de plantas frigoríficas. “Exportaremos frangos e importaremos tripas suínas.” Duas plantas já receberam o aval chinês: a da Perdigão, em Rio Verde (GO), e a da Seara, no Sul.

Questão cultural, de só consumir carne de suíno abatido no dia, é um dos obstáculos 

O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos, Rubens Valentini, quer incentivar o aumento das exportações de carne suína e vê a China como um mercado promissor. “O país é auto-suficiente, mas temos de ficar atentos, porque precisamos aumentar as exportações e diversificar mercados.” Valentini diz que o Brasil já exporta carne suína para Hong Kong, que funciona como entreposto comercial chinês, e tem um serviço sanitário préinspecionado pela China. “Com isso, as carnes que chegam ao local têm a possibilidade de entrar na China continental.”

HONG KONG

Valentini cita os números da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carnes Suínas, referentes às exportações para Hong Kong em 2004: 57.876 toneladas – 12% dos embarques de carne suína -, abaixo das 60.655 toneladas de 2003. Em contrapartida, nos cinco primeiros meses de 2005, as exportações para o país cresceram 17% em volume, comparado ao mesmo período de 2004. O faturamento, de US$ 36,3 milhões, aumentou 45,6%.

O presidente da Associação Paulista dos Criadores de Suínos, Valdomiro Ferreira, também afirma que uma das metas, para 2006, é iniciar as exportações de carne suína para a China. “Precisamos agregar mercados para reduzir a dependência da Rússia”, diz. “Embora a China seja um mercado difícil de entrar, o Brasil faz a lição de casa quanto às questões sanitárias.” O diretor-presidente da Nutron Alimentos, Luciano Roppa, concorda com a atratividade da China no mercado internacional de carnes. No entanto, ele aponta dificuldades. Uma delas é a capacidade de armazenagem. “Faltam unidades frigoríficas na China.” Outra barreira é cultural. “Os chineses apreciam carne de animais abatidos no mesmo dia.” Outro gargalo é que o custo de produção de suínos na China é baixo. “Os animais são produzidos em unidades familiares, com restos de comida.” Ao mesmo tempo, ele aponta queda no consumo de carne suína, que corresponde a 67% da proteína animal na alimentação chinesa. “Já foi 80%.A carne de frango tem ocupado esse espaço”, diz. “A tendência, então, é maior investimento na carne de frango, até porque não há o tabu da carne fresca.”