A pedido da Venezuela, o governo brasileiro tem procurado empresas brasileiras para ajudar a garantir fornecimento de produtos básicos contra a grave crise econômica no país vizinho.
A solicitação foi reforçada pelo presidente Nicolás Maduro em pelo menos dois encontros com Dilma Rousseff, em dezembro de 2014 e um dia após a posse da brasileira, em 2 de janeiro.
O esforço brasileiro antecipa o que a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) pretende fazer nos próximos meses.
No início de março, o bloco anunciou a criação de “redes regionais de apoio” para a distribuição de produtos básicos para a Venezuela.
Um dos planos é justamente aumentar exportações para o país, que sofre uma crise de desabastecimento e com a desvalorização do petróleo, sua principal fonte de renda.
O Ministério da Saúde confirmou à Folha que, após o pedido do governo venezuelano, “proporcionou um encontro” de uma equipe técnica do país com produtores nacionais da indústria farmacêutica.
O grupo Eurofarma, que confirma o ingresso no país como parte de sua expansão na América Latina, teve um encontro em dezembro com a então ministra da Saúde venezuelana, Nancy Sierra.
“A Venezuela responde por 12% do varejo farmacêutico na região”, afirma a Eurofarma, em nota, acrescentando que ainda estuda a melhor forma de entrar no país, seja, por exemplo, com parcerias com empresas locais ou aquisição de empresas ou linhas de produtos. “A avaliação inclui análises socioeconômicas, de práticas comerciais e ambiente político e regulatório.”
A Eurofarma é um exemplo do único grupo de empresas brasileiras que ainda veem oportunidades na Venezuela por conta do desabastecimento no país vizinho: os exportadores de produtos básicos.
Nos dois primeiros meses deste ano, as exportações brasileiras registraram seu pior resultado desde 2005 -o que levou, em fevereiro, o superavit com a Venezuela ao pior índice em 11 anos.
Mesmo diante desse cenário, o presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), Antônio Jorge Camardelli, destaca a demanda por alimentos na Venezuela.
“A despeito de qualquer tipo de crise, o alimento é certamente o carro-chefe da política de governo, e a carne bovina inevitavelmente está nessa linha, pela dificuldade de produção”, diz.
Apesar de afirmar não ter sido procurado pelo governo brasileiro sobre exportações para a Venezuela, o frigorífico JBS reconhece a oportunidade de negócios no país mesmo em meio à crise. Segundo sua assessoria, até os atrasos “que eram comuns já quase não existem”.
MERCADO AGONIZANTE
O mesmo otimismo contido não se vê entre empresas que trabalham com produtos não considerados de primeira necessidade. A Steck, que exporta equipamento elétrico de proteção, por exemplo, se diz em “stand by” diante de um “mercado agonizante”. A empresa suspendeu as exportações e tenta até hoje reaver 40% do valor que deveria ter recebido dos importadores desde 2011.
“O governo faz um filtro. Para comida e remédio, o empresário [venezuelano] vai ter acesso a dólares para seguir importando. O que sai desse escopo se torna supérfluo”, diz o gerente de exportação da Steck, Vinícius Gibrail.
O Itamaraty vem advertindo empresas brasileiras sobre a escassez dos dólares no país e recomendando que recorram a mecanismos alternativos, como pagamentos em moeda local ou transações dentro da mesma empresa.