O ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) promove uma missão ao Egito e ao Irã a partir do próximo final de semana. O ministro Neri Geller vai liderar uma delegação composta por representantes do governo, empresas exportadoras de carne bovina e frango, entidades setoriais e certificadoras de abate halal.
Um dos principais objetivos da viagem é negociar o fim do embargo às importações de carne bovina de Mato Grosso. Os dois países suspenderam as compras após a identificação este ano do agente causador da encefalopatia espongiforme bovina – o mal da vaca louca – num animal do rebanho do estado.
O caso foi considerado “atípico”, pois, segundo o Mapa, ocorreu em função da idade avançada da vaca e não por intoxicação. O status do Brasil segue como de risco insignificante para a doença, segundo avaliação da Organização Internacional de Saúde Animal (OIE).
O secretário de Relações Internacionais do Mapa, Marcelo Junqueira, disse à ANBA que a delegação pretende mostrar aos governos dos dois países que “o status sanitário do Brasil é compatível com os melhores do mundo” e que a maioria dos mercados que suspenderam as importações após o anúncio do caso já voltaram a comprar. “Nossa expectativa é voltar [ao Brasil] com estes temas solucionados”, destacou.
Outro assunto a ser tratado no Egito é a fiscalização carga a carga adotada este ano pelo país nas importações de frango, o que significa que todos os embarques têm que ser fiscalizados, não só por amostragem. “Vamos ouvir a posição deles, saber o porquê da exigência, pois outros países não têm esta obrigação”, ressaltou.
Em sua avaliação, a medida aumenta os custos do exportador e o tempo da operação e, por consequência, onera o bolso do consumidor. “Tenho convicção de que podemos debater este tema e chegar a bom termo”, declarou.
Junqueira lembrou que a viagem ocorre num momento de “boas notícias” para os exportadores brasileiros de carnes, com a abertura do mercado chinês para a carne bovina nacional e o aumento da demanda na Rússia, após o país ter embargado as compras dos Estados Unidos, União Europeia, Austrália, Canadá e Noruega, em reposta às sanções impostas a Moscou por seu apoio aos separatistas russos da Ucrânia.
Segundo ele, a missão faz parte do trabalho de “manutenção” de mercados. O secretário ressaltou que o Brasil é o maior exportador de carne bovina e de frango do mundo e que tem condições de abastecer seus parceiros tradicionais mesmo com o surgimento de novas demandas. “Como fornecedores, nós fazemos nosso dever de casa”, disse. “O comprador é o senhor da razão, se os árabes querem cortes halal, nós fazemos, e com isso vamos conquistando mercados”, acrescentou ele, referindo-se ao abate de animais feito de acordo com a tradição muçulmana.
Apoio
A Câmara de Comércio Árabe Brasileira fará parte da missão, mas apenas na visita ao Egito, pois o Irã não é um país árabe. Como a primeira parada da delegação é na nação persa, o diretor-geral da entidade, Michel Alaby, e o executivo de relações governamentais, Tamer Mansour, vão chegar dois dias antes no Cairo para reuniões com instituições locais.
Um dos encontros será com representantes da Liga dos Estados Árabes, com quem Alaby pretende discutir a implementação do processo online de certificação e legalização de exportações, que vai reduzir o custo e o tempo destas operações. A Câmara é a única entidade brasileira autorizada pela Liga a realizar certificação de origem e de documentos nas vendas ao mundo árabe.
Eles vão se reunir também com lideranças da Federação das Câmaras de Comércio do Egito e da Federação das Indústrias do país com o objetivo de conseguir apoio para as demandas brasileiras de levantar o embargo sobre a carne de Mato Grosso e acabar com a fiscalização carga a carga do frango.
Vão integrar a delegação ainda representantes de grandes companhias que abastecem estes mercados, como os frigoríficos JBS, Marfrig e Minerva, e a BR Foods, holding que controla as marcas Sadia e Perdigão, além de dirigentes da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) e da Associação Brasileira de Proteína Animal.
Comércio
O Egito é um dos principais importadores de carne bovina do Brasil. Segundo informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as exportações ao mercado egípcio somaram US$ 284 milhões de janeiro a julho, um aumento de 23% em comparação com o mesmo período do ano passado, apesar do embargo sobre Mato Grosso.
Já as vendas de frango ao país árabe renderam US$ 73,42 milhões nos sete primeiros meses de 2014, uma queda de 16% em relação ao mesmo período de 2013.