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Exportação

Brasil sem foco nas exportações

Para Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs, falta um objetivo mais comercial na política externa do Brasil. "A estratégia do Brasil é política e não comercial".

Pedro de Camargo Neto, especialista em comércio exterior, avalia que falta “foco comercial” na política externa. “A estratégia do Brasil é política e não comercial. E isso agora começa a fazer falta. Ele é mentor do painel do algodão, uma vitória do País contra os EUA. A seguir, trechos da entrevista:

Qual é o motivo do fraco desempenho dos produtos brasileiros nos Estados Unidos?

Nunca é um fator só. Tem a questão cambial, que é perda de competitividade do País como exportador em todos os mercados. O outro fator é a falta de foco comercial da política externa. O presidente Lula fez história como liderança carismática. A atuação do ministério das Relações Exteriores (Celso Amorim) também é forte em vários lugares. Mas é uma estratégia política e não comercial, e isso começa a fazer falta.

As exportações cresceram pouco para os EUA, mas muito para o resto do mundo. Por quê?

As exportações para a China avançaram porque o Brasil estava preparado para atender à demanda, e não por um acordo bilateral. Foi a existência da Vale e do setor agrícola que viabilizou o crescimento. Na Rússia, que se tornou o principal destino das exportações de carne bovina e suína, as cotas discriminam o Brasil e favorecem americanos e europeus.

Se a Alca tivesse avançado, o Brasil venderia mais para os EUA?

É difícil dizer. Se uma boa Alca tivesse andado, teríamos vendido mais. Mas nem o Brasil, nem os Estados Unidos estavam preparados para negociar a Alca. Não ponho a culpa só no Brasil. As Américas não são prioridade para os EUA. A culpa é dos dois lados.

As divergências do governo com os EUA prejudicam o comércio?

Não. O que falta na área comercial é alguém trabalhando por isso. A Apex (Agência de Promoção de Exportações) e o departamento comercial do Itamaraty não fazem negociação comercial. Eles trabalham no pós-acordo, para aumentar o mercado, e não discutem regras ou barreiras.

O governo anunciou uma ofensiva ao mercado americano. O que pode ser feito?

Negociações comerciais são de médio prazo. Dificilmente se começa e termina algo em um ano. Não acredito que vão abrir o mercado de etanol ou fazer um acordo de livre comércio. Não dá mais tempo.

No painel do algodão, o Brasil ameaça retaliar os EUA. É o melhor caminho?

A regra na OMC é essa. Os EUA, infelizmente, não têm se mexido. Os americanos precisam entender que, para ter um sistema multilateral forte, temos de seguir as regras.