O governo federal acaba de publicar um estudo sobre as projeções do agronegócio brasileiro. A estimativa é que, em dez anos, o País estará consolidado como grande potência mundial na produção de alimentos. A informação está baseada no contínuo crescimento de alguns setores, tanto em termos de produção quanto de exportação.
De acordo com o estudo, se o cenário se confirmar, o Brasil terá 33,2% do mercado de grão de soja em todo o mundo, 12% do de milho, 49% da participação da carne de frango, 30% da carne bovina e 12% da carne suína. Tudo isso sem falar do café, do suco de laranja e de outros produtos em relação aos quais exercemos folgada liderança internacional.
Muito bem. A estimativa do governo, que enche de orgulho um setor cada vez mais crucial para a economia, não chega a ser novidade. Pelo menos àqueles que, há muitos anos, acompanham a trajetória do agronegócio.
Apesar das políticas públicas amplamente desfavoráveis, dos problemas referentes ao crédito, ao câmbio, à infraestrutura – sem falar das adversidades impostas pelo clima – o agricultor brasileiro é muito competitivo, mas da porteira para dentro.
E graças a esse espírito empreendedor e destemido, somado ao uso de tecnologia apropriada, o crescimento da produtividade tem sido um fator extraordinário e decisivo nas últimas décadas.
Resta perguntar: o que o próprio governo vai fazer, nos próximos anos, para dar suporte a essa vigorosa expansão? Como se sabe, a estrutura de armazenamento não comporta mais que 130 milhões de toneladas de grãos – e, em 2011, foram colhidas mais de 160 milhões de toneladas! As estradas, da mesma maneira, precisam de investimentos urgentes, e o que dizer dos portos, tão saturados?
O País precisa, sem demora, de um projeto para o futuro. Algo bem pensado e discutido com toda a sociedade, sem os improvisos e remendos que se costuma ver.
A figura do aristocrata que posa de cartola, fraque e bengala – mas tem os pés descalços – pode ser aplicada à realidade de um país que tem tudo, realmente, para consolidar-se como uma superpotência agrícola. O campo está fazendo a sua parte. O que precisa é o governo enxergar a oportunidade que está sendo oferecida e fazer a sua.
Se isto não acontecer, o agronegócio manterá o ritmo de crescimento, sem dúvida, ampliando seus recordes e horizontes. Mas a um custo cada vez mais escorchante, o que certamente acabará afetando sua competitividade.
Hoje, vale lembrar, somos competitivos em pouquíssimos setores, com destaque para apenas dois, em especial: um, a exploração de petróleo em águas profundas; outro, a produção de alimentos.
O pré-sal, que vai trazer grande volume de recursos para o país, está gerando desenvolvimento e prosperidade a algumas regiões litorâneas, principalmente no Rio de Janeiro. O agronegócio, menos midiático, já faz isto há muito tempo e continuará fazendo de forma duradoura em todo o interior brasileiro, criando riquezas que se transformam, no mínimo, em melhor qualidade de vida para toda a população.
Luiz Lourenço , presidente da Cocamar Cooperativa Agroindustrial