Redação SI (17/08/06)- Incentivadas pelo governo federal, as indústrias exportadoras de carne suína costuram um compromisso interno para levar à Rússia a proposta de um acordo de preços permitindo reabrir a todos os Estados o principal mercado do produto brasileiro.
Em conversas reservadas, membros do governo russo reclamam da “inundação” do mercado local provocada pelos baixos preços do suíno brasileiro. Pressionado pelos produtores, cada vez mais influentes politicamente, o governo russo argumenta que a cotação média da tonelada da carne caiu de US$ 1,4 mil para US$ 850 com o “excesso” do Brasil em 2005. A Rússia fechou seu mercado no fim do ano passado. Em abril deste ano, reabriu parcialmente apenas para a carne do Rio Grande do Sul.
Os russos afirmam que Dinamarca e Canadá ganharam espaço no seu mercado com preços mais altos que os brasileiros. E sugerem que uma solução definitiva para o longo embargo passaria por esse acordo de preços, já que as autorizações de importação para o produto brasileiro devem ser “substancialmente menores” em 2006. Em 2005, o Brasil vendeu 400 mil toneladas de carne suína aos russos. Neste ano, foram 126 mil toneladas até julho. A cota brasileira soma 174 mil toneladas. Fora desse volume, o produto nacional paga uma tarifa extra-cota.
“Buscamos um compromisso de monitoramento, mas é uma questão de educação das empresas brasileiras. Se não for assim, a Rússia continuará a criar travas”, afirma Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). “Historicamente, é difícil de fazer, mas estamos trabalhando nisso”. Segundo ele, é preciso “mobilizar” as empresas, já que os russos têm na mão o “porrete” de preços e tarifas extra-cota.
Os produtores de suínos também têm interesse na reabertura, mas são céticos em relação a um compromisso interno. “Temos discutido isso, mas alguém pode furar o acordo aqui dentro”, avalia o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Suínos. “Temos que conversar com os produtores de lá. Se o Paraguai estivesse vendendo suíno barato aqui, estaríamos acampados no ministério também. Também há problemas com o importador russo, que faz leilão ao contrário para barganhar preço melhor”.
O Ministério da Agricultura apóia as conversas com os russos e alerta que também pode haver problemas com a Argentina. “Teremos uma reunião para tratar do tema com os argentinos na próxima semana”, diz o secretário de Relações Internacionais do Agronegócio, Célio Porto. No dia 25, está previsto um encontro bilateral de monitoramento econômico. Os preços dos suínos estão na pauta.
O governo também trabalha para retirar travas ao comércio de suínos em outros mercados. Na próxima semana, uma missão técnica visitará o Chile para apresentar estudos de análise de risco feitos para a carne suína brasileira. “Se já exportamos bovinos, porque não suínos?”, questiona Porto. O ministério negocia o reconhecimento de uma “zona tampão” para a febre aftosa que permitiria vender suínos aos Estados Unidos. Com isso, espera derrubar travas impostas por México e Canadá à produção nacional.