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Economia

Brics querem crédito em moeda local

Grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul estuda acordo para facilitar transações comerciais.

Vista pela presidente Dilma Rousseff como uma oportunidade de coordenar a ação internacional do Brasil com outros grandes países emergentes, a reunião, na semana que vem, dos presidentes do Brics, o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, deve resultar em um acordo para facilitar o uso de moedas locais nas transações de crédito comercial entre os cinco países. Os presidentes dos bancos de Desenvolvimento dos países do Brics firmarão acordo para emitir “letras de crédito” em moeda nacional aos parceiros.

Dilma quer discutir com os parceiros do grupo respostas comuns à crise internacional, às demandas por nova distribuição de poder nos órgãos multilaterais, como o Banco Mundial, e a “segurança global”, com ênfase nos conflitos do norte da África e Oriente Médio. “Vamos também falar da conferência Rio+20, neste ano, com foco no desenvolvimento sustentável”, adiantou a subsecretária-geral de Política para a Ásia e África, do Ministério de Relações Exteriores, Maria Edileuza Fontenele Reis.

A criação de um “banco de desenvolvimento” dos Brics, proposta apresentada pela Índia, anfitriã da reunião, fará parte da agenda, mas é, ainda, uma “ideia embrionária”, segundo a diplomata. Os governos, até agora, entraram em acordo apenas para criar um grupo técnico que discutirá o possível formato desse novo banco e instrumentos para promover “projetos de desenvolvimento sustentável”.

“O mais importante é a questão do capital, não é discussão fácil”, adiantou Maria Edileuza. “O ministro da Fazenda (Guido Mantega) já foi consultado sobre o assunto, fez algumas declarações sobre esse tema, avaliando que considera importante, útil e inovadora “, comentou.

Segundo uma autoridade que participa das discussões sobre o futuro banco de desenvolvimento, a Rússia é o país menos interessado na proposta, que vem sendo tratada com cuidado para não emitir o sinal de que o grupo pretende criar um competidor para o Banco Mundial (Bird). Dilma, segundo um de seus auxiliares, quer discutir com os outros presidentes o apoio conjunto a um candidato dos países emergentes para a presidência do Bird, que teria o novo banco como instituição “complementar”, para projetos de desenvolvimento sustentável prioritários.

Segundo um integrante da comitiva de Dilma à Índia, os bancos de desenvolvimento e de comércio exterior de Brasil, Índia, Rússia, China e África do Sul assinarão dois acordos durante a reunião. Um deles, “guarda-chuva”, permitirá projetos de financiamento conjunto entre os países e outro autorizará a emissão de “letras de crédito” em moeda local para financiar operações de comércio exterior, dispensando o dólar como moeda de referência. A emissão dessas letras terá de ser regulamentada em acordos bilaterais, que estabelecerão garantias, limites e valores. Curiosamente, a língua a ser adotada nesses acordos será o inglês.

Os países do grupo Brics reúnem economias que serão responsáveis, segundo projeção do Fundo Monetário Internacional, por 56% do crescimento global em 2012, enquanto as nações desenvolvidas do chamado G-7, que reúne as principais economias ocidentais e o Japão, contribuirá com apenas 9%, segundo lembrou Maria Edileuza. Sinal das grandes diferenças entre os parceiros do grupo, porém, só China e Índia responderão por quase 50% do crescimento global.

Os integrantes do governo defendem a atenção concedida por Dilma aos Brics com o argumento de que o grupo tem permitido ao Brasil conhecer com antecedência ações de grandes atores globais emergentes, em decisões como a recente discussão do G-20 (o grupo das economias mais influentes no mundo). Além de discutir antecipadamente a resposta que o grupo daria à demanda por socorro aos países europeus, a presidente Dilma foi informada com antecedência pelo governo chinês de questões relevantes, como a recente reavaliação chinesa de suas previsões de crescimento, para menos de 8%, argumentou um auxiliar da presidente.