Mesmo com sinais de um cenário positivo para preços, custos de produção e inadimplência, os produtores rurais devem enfrentar mais uma temporada de acesso restrito ao crédito privado na nova safra de grãos 2009/10, que começa a ser plantada em setembro.
Maior exportadora do agronegócio brasileiro e tradicional financiadora do setor, a Bunge Brasil prevê um cenário mais favorável ao produtor, mas ainda com crédito restrito a produtores considerados de baixo risco e menos endividados no sistema financeiro. “Entramos na nova safra com risco menores de inadimplência. Mas vamos continuar muito rigorosos com a concessão de crédito, assim como fizemos nas últimas duas safras”, afirma o diretor de comunicação e marketing corporativo da Bunge, Adalgiso Telles, em visita ao Valor. “A combinação de nível de endividamento baixo com rigor no crédito é bom para a saúde financeira do setor”, diz ele.
Multinacional com sede nos Estados Unidos, a Bunge mantém relação comercial com 30 mil produtores rurais e adquire, a cada safra, cerca de 15 milhões de toneladas de soja, trigo, milho, caroço de algodão, sorgo, girassol e açúcar. Em operações de “soja verde”, vendas a fixar e preço fixo, a empresa responde por boa parte do crédito privado de tradings que sustentam cerca de um terço das necessidades de financiamento do setor rural.
Otimista, a direção da Bunge Brasil aposta que a próxima safra será embalada por preços das commodities acima das médias históricas em razão da forte demanda da Ásia, sobretudo da China, e das quebras de safra na Argentina e nos EUA. A empresa avalia que os preços dos insumos devem ficar bem abaixo da última safra, quando a disparada dos fertilizantes comprometeu uma boa fatia da renda dos produtores.
“Será um ano razoavelmente bom para o agronegócio. A qualidade do crédito foi maior, e as indústrias entrarão bem a safra”, afirma Adalgiso Telles. “Será o ano do produtor rural com endividamento mais baixo, derivado justamente do rigor creditício das últimas duas safras, o que protegeu e deu musculatura a produtores e indústrias”
O cenário deve ser menos pródigo a produtores em situação de maior risco e poucas garantias reais. “A reclamação [de escassez no crédito privado] vem de produtores de mais risco, sem garantia, o que gera exposição maior para indústria e para eles”, diz o diretor da Bunge. “Mas aí se trabalha com prazos menores, de 30, 60 dias”.
Dona de mais de 300 unidades no Brasil, entre indústrias, centros de distribuição, silos e instalações portuárias, a Bunge lidera o ranking da chamada originação de grãos e do processamento de soja e trigo, além da produção de fertilizantes, ingredientes para nutrição animal, fabricação de produtos alimentícios e e serviços portuários. Em 2007, a Bunge Brasil teve receita bruta de R$ 22,5 bilhões. Já a Bunge Alimentos faturou R$ 23,4 bilhões no ano passado.