Redação (23/11/06) – Cerca de 30 mil toneladas de carne bovina brasileira exportadas à Rússia entre setembro e outubro deste ano estão retidas no porto de São Petesburgo ou em navios que se dirigem ao país depois que importadores que atuam no mercado russo iniciaram uma tentativa, há cerca de três semanas, de renegociar os preços do produto.
A situação – que já tem efeitos sobre o mercado interno e externo – foi deflagrada depois que a holandesa Van Luin Food Group, que atua na Rússia, decidiu pedir a renegociação dos preços de produto a frigoríficos brasileiros. O Valor apurou que a empresa tenta baixar os preços porque após a reabertura dos mercado russo para a carne de São Paulo e Goiás no dia 6 de outubro, as cotações recuaram por conta da maior oferta esperada de carne brasileira.
Antonio Camardelli, diretor-executivo da Abiec – Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne, que representa os frigoríficos exportadores brasileiros disse que não haverá renegociação de preço e se o produto importado não for pago, será redirecionado para outros clientes na Rússia.
As importações de dianteiro bovino, feitas entre setembro e outubro, para embarque à Rússia entre o fim de outubro e neste mês, foram fechadas por US$ 2.500 a US$ 2.600 por tonelada (FOB). A empresa quer reduzir o preço para US$ 2.000 FOB, patamar em que está o mercado, depois da reabertura dos dois Estados brasileiros. Ambos estavam fechados por causa do embargo parcial russo à carne brasileira imposto após o ressurgimento da aftosa em outubro de 2005. A Rússia mantém a suspensão à carne bovina de Minas Gerais e à carne suína de Santa Catarina.
Marco Bicchieri, da área de exportação do Bertin, disse que houve “problema de planejamento” do importador, que acabou comprando volume maior do que tinha capacidade de pagar. Segundo o executivo, não há volumes exportados pelo Bertin retidos, mas o frigorífico participou das conversações já que também tem o importador entre seus clientes.
A iniciativa de tentar derrubar os preços do carne brasileira já comprada foi seguida por outros importadores que atuam na Rússia, segundo fontes do mercado.
Além da carne retida em São Petesburgo ou em navios, há também volumes estocados em portos brasileiros que seriam destinados a importadores russos. No mercado, fala-se em volume semelhante ao retido no exterior, mas Camardelli, da Abiec, afirmou que os embarques à Rússia continuam e que os que seriam destinados aos clientes que tentam derrubar os preços serão redirecionados para outros mercados.
O imbróglio com os importadores russos teve efeitos no mercado brasileiro e até no internacional. Como o problema com a Rússia pode levar a um redirecionamento das vendas por parte de exportadores brasileiros, já houve queda de preços em mercados como o Egito, que compra cortes bovinos similares aos adquiridos pela Rússia. O dianteiro, por exemplo, caiu de US$ 2.100 por tonelada (FOB) para US$ 1.800 no mercado egípcio por conta da expectativa de maior oferta brasileira.
No mercado interno, o problema russo ajuda a pressionar a cotação do boi gordo, segundo Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria. O boi, que chegou a R$ 64 por arroba em São Paulo em meados de outubro começou a cair com o início das chuvas, que levaram os pecuaristas a vender gado de confinamento. A situação se agravou porque a demanda no mercado interno também é ruim. A arroba em R$ 54 ontem, segundo a Scot, mas frigoríficos já tentavam pagar R$ 52.
A situação de mercado, que foi agravada pelo episódio com a Rússia, levou frigoríficos exportadores a reduzirem abates e a darem férias coletivas em algumas plantas.