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Carne é a vilã no aumento da cesta básica

Carne de primeira, frango e lingüiça foram os produtos que tiveram as maiores altas.

Da Redação 17/11/2003 – 04h10 – As carnes (carne de primeira, frango e lingüiça), os principais itens que compõem a mistura de grande parte das famílias na hora das refeições, fizeram o papel de vilão puxando o preço médio da cesta básica de alimentos para cima em outubro na cidade de Sorocaba (SP).

Isso confirma a tendência de alta da cesta detectada em setembro. O preço médio dos alimentos cresceu 2,6% em outubro, em comparação com setembro, o que é muito superior aos principais índices de inflação do mês. A cesta registrou preço de R$ 244,16 em outubro. Ficou R$ 6,27 mais cara, em comparação com o preço de R$ 237,89 de setembro.

A constatação foi apurada pela Universidade de Sorocaba (Uniso), que há oito anos faz o acompanhamento semanal de preços da cesta básica nos supermercados da cidade. O responsável pelo levantamento é o professor de Economia da Universidade, Manuel Antônio Munguia Payés, que é auxiliado pelos estagiários Fernando Lima e Sophia Abraham.

Somente as carnes contribuíram com 85% do aumento de 2,6% da cesta. Por exemplo, o preço da carne de primeira cresceu 6% em outubro, comparado ao mês anterior. Isso tem peso significativo na cesta. O gasto com carne de primeira na cesta é de R$ 45,35, R$ 2,69 a mais do que os R$ 42,66 em setembro. O frango aumentou 25%, e a lingüiça, 17%.

Tendência

Na análise de Payés, a tendência para a cesta até dezembro continua a ser de alta, seguindo a curva crescente no período final dos últimos anos, desde 2000. Ele classificou como alta a elevação do preço da cesta. Só não aumentou de forma mais clara e intensa porque a população está com pouco dinheiro, o poder de compra da população caiu muito. E também porque o feijão carioca, a batata e a salsicha tiveram redução de preços, respectivamente de 3%, 6% e 3%, o que contribuiu para conter uma alta maior do conjunto da cesta.

A comparação com os principais índices de inflação mostra o tamanho da desproporção. Enquanto a cesta subiu 2,6% em outubro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE no mês foi de 0,29%; o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do IBGE, de 0,39%; o Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) da Fundação Getúlio Vargas, de 0,38%; o Índice de Custo de Vida (ICV) do Dieese, de 0,47%.

No acumulado de janeiro a outubro de 2003, a cesta aumentou 6,1%, 3,29 pontos porcentuais a menos do que o índice de 9,39% do INPC do IBGE no mesmo período. Mas, no acumulado de 12 meses, a cesta ganha da inflação: o aumento da cesta foi de 20,5%, ante 16,15% do INPC do IBGE – 4,35 pontos porcentuais a mais na alta dos alimentos. No acumulado de 12 meses o vilão foi o arroz, com alta de 46% no período. 

Exportações

Para o professor de Economia, o aumento de preços das carnes tem relação com o crescimento do fluxo de exportações das carnes bovina e suína e de frango. Isso ocorreu após a queda das barreiras sanitárias, que permitiu as exportações. Como reflexo, a oferta diminui no mercado interno, o que puxa os preços para cima. Outro fator é o dólar, já que as carnes são commodities – produtos com preços cotados na moeda norte-americana.
Entre os alimentos que tiveram redução de preço, Payés diz que isso ocorreu com o feijão carioca porque há estoques reguladores e boa oferta do produto. Quanto ao arroz, que teve peso forte de aumento em 12 meses, o motivo foi a safra de 2003, que foi ruim. Exportações do arroz contribuíram para esse resultado. E há denúncias que acusam grandes produtores de reter o arroz nos armazéns para manter os preços em alta no varejo.