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Consumo

Carne suína para brasileiros

Mercado interno alavancará venda de carne suína este ano. "A salvação para o setor está aqui dentro".

Carne suína para brasileiros

Apesar da insatisfação dos criadores de porcos, entidades ligadas à suinocultura apostam no mercado interno para a recuperação e desenvolvimento do setor no Brasil. Segundo Fabiano Coser, diretor executivo da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), enquanto parte das atividades econômicas relacionadas à comercialização da carne comemoram a retomada, este ano, das exportações à África do Sul, de 60 mil toneladas, a saída para impulsionar as vendas é o consumo doméstico. “É importante abrir mercado externo, mas não é a solução. A salvação para o setor está aqui dentro”, diz.

De acordo com Coser, o Brasil é o quarto exportador global de suínos, mas há cinco anos o volume embarcado está estagnado entre 550 mil e 600 mil toneladas por ano. “Não me anima a ideia de exportação. Podemos vender muito mais aqui dentro”, diz.

Para o diretor da ABCS, o Projeto Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura, que visa ampliar o consumo interno da carne in natura, caminha para atingir sua meta de aumentar em dois quilos a venda per capita até 2013, passando de 13 quilos para 15 quilos. O programa, lançado no dia 21 de outubro de 2009, é uma iniciativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), ABCS e Sebrae. “Cada quilo representa 200 mil toneladas, ou seja, 400 mil toneladas a mais por ano”, afirma.

Estatística da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs) aponta que atualmente são consumidos, por ano, 13,8 quilos per capita de carne de porco.

Para Losivânio Luiz de Lorenze, vice-presidente da Associação Catarinense dos Criadores de Suínos (ACCS), a criação do Instituto Nacional da Carne Suína (INCS) também vai proporcionar mais visibilidade ao mercado interno. “É preciso mostrar a qualidade da carne e quebrar mitos”, afirma. Para Lorenze, muitos produtores deixaram a suinocultura e estão endividados: “Eles não acreditam mais em perspectivas. Muitos deixaram a cultura, outros tem dívidas”, acrescenta.

Para Coser, o crescimento do País deve possibilitar um aumento considerável na produção, demanda e melhores preços ao produtor e ao consumidor. “O mercado doméstico pode gerar sustentabilidade para o setor, que precisa da base de sustentação interna que não depende de políticas externas e câmbios.”

O programa, segundo o diretor, atua em toda cadeia produtiva e busca reestruturar a oferta no mercado com variados tipos de corte. “O consumidor só conhece o pernil, a costela e o lombo. Tem de ter carne moída, bife, coxão mole, filé mignon, picanha e tantas outras opções como oferece a carne bovina”, afirma.

O diretor disse, ainda, que a reestruturação é apenas da porteira pra fora, nas pequenas e médias indústrias, que podem distribuir de perto a carne mais fresca. “Eles tem tecnologia defasada, por isso, é necessária uma consultoria para adequação, como novas salas de corte. Isso não influencia o preço ao produtor”, afirma.

Para o catarinense José Meurer Michels, criador de pequeno porte, se a adequação das indústrias afetar os preços, será para melhor. “Falta muito corte in natura. Não acredito que isso possa nos afetar, só se for para melhorar os preços. Faz tempo que trabalhamos com prejuízo”, comenta.

Fernando Henrique Iglesias, analista da Safras & Mercado, também acredita no potencial interno do setor, mas não descarta a possibilidade de ampliação das exportações brasileiras. Para Iglesias, a retomada das vendas para a África, depois do embargo, em 2005, devido à febre aftosa, pode abrir mercado para o resto do continente. “Não é tão significativo quanto à União Europeia, mas pode ampliar mercado em curto prazo. Filipinas, Vietnã e África do Sul juntos podem importar 8 mil toneladas por mês”, calcula.

Para o analista, também é possível que a Rússia encontre problemas com a carne de porco dos Estados Unidos. “Já que os americanos têm dificuldade de adequação fitossanitária.”

Para a Abipecs, o fator determinante para a suinocultura do País, este ano, está na competitividade em relação aos principais concorrentes internacionais. A valorização do real e reformas internas, principalmente a tributária serão fundamentais.