São cada vez mais cristalinos os sinais de que o campo brasileiro terá muitas dificuldades para repetir em 2012 os resultados positivos recordes deste ano.
Na 44ª reunião do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), realizada ontem na capital paulista, representantes do setor ouviram do consultor André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult, que a crise financeira irradiada de países desenvolvidos, sobretudo europeus, “começa a contaminar a demanda globalmente”.
Trata-se de um fator que tira sustentação das cotações das commodities agrícolas no mercado internacional e, assim, a pressão sobre as margens de lucro dos produtores tende a ser maior nesta temporada 2011/12.
No ciclo 2010/11, as margens em culturas como soja, milho e algodão alcançaram níveis recordes no país, embaladas pelo firme consumo em países emergentes como a China, quebras na oferta provocadas por adversidades climáticas no Hemisfério Norte e grande interesse de fundos de investimentos em atuar nos mercado agrícolas.
Agora, lembrou Pessôa, os estoques globais de grãos estão em geral em recomposição – ainda que sigam apertados – e, em razão de movimentos financeiros derivados da crise no mundo desenvolvido, a posição dos fundos de investimentos está “quase no fundo do poço”.
Se de fato a demanda cair consideravelmente, com parte dela represada em virtude de uma tendência de aperto do crédito que ganha força, a conjunção negativa estará completa. Mesmo que as estimativas iniciais do governo apontem para uma relativa estabilidade na colheita de verão de grãos em 2011/12, Pessôa observou que no caso do milho, por exemplo, as perspectivas são de aumento da produção brasileira.
A Agroconsult projeta a colheita de milho em 65 milhões de toneladas, enquanto a Conab prevê entre 58,4 milhões e 59,5 milhões de toneladas, até 3,4% mais que na temporada passada.
No caso da soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, a Agroconsult elevou seu cálculo para a produção em 2011/12 para 74,8 milhões de toneladas, o que também seria um avanço. Para a Conab, a colheita da oleaginosa ficará entre 71,5 milhões e 73 milhões de toneladas, queda de até 5,1% sobre 2010/11.
Tanto no milho quanto na soja, a diferença entre as estimativas decorre das incertezas climáticas que pairam sobre o desenvolvimento das lavouras em decorrência do fenômeno La Niña.
No mercado de algodão, cujos preços bateram todos os recordes de alta entre o segundo semestre de 2010 e início deste ano, Pessôa acredita que haverá problemas. Primeiro porque os preços externos já despencaram nos últimos meses, e poderão cair ainda mais. E em segundo lugar porque as fibras sintéticas avançaram no mercado durante a disparada das cotações da pluma, o que pode limitar qualquer reação.
Nesse caso, a soja poderá ganhar fôlego na disputa por terras com o algodão. Na safra 2010/11, em algumas regiões do país, como no oeste da Bahia, foi difícil ampliar a área plantada de soja por conta da forte expansão da cotonicultura.
Apesar do cenário bem menos positivo do que nesta mesma época do ano passado, quando a safra 2010/11 estava sendo plantada, Pessôa não acredita que as margens de lucro definharão tanto a ponto de se tornar negativas. “Ainda será uma safra muito boa”.
E como a posição dos fundos nos mercados agrícolas globais está mais baixa, nota, qualquer problema mais sério na oferta ou sinal de que a demanda mundial poderá surpreender positivamente tende a atraí-los de volta, oferecendo suporte extra aos preços. Em outubro, por exemplo, o saldo dos investimentos globais dos fundos em commodities em geral (inclusive não agrícolas) voltou a ser positivo após a fuga de setembro.
Ontem, por exemplo, prevaleceu nos mercados uma expectativa positiva em relação a ações que podem ser adotadas contra a crise europeia, o que influenciou a queda do dólar diante de outras moedas e a alta das commodities agrícolas em geral.
Presente ao encontro na Fiesp, a secretária da Agricultura de São Paulo, Mônica Bergamaschi, agregou que o horizonte para a cana não é dos melhores na próxima safra (2012/13), pelo menos do ponto de vista da oferta do Estado, maior produtor do país, já que a recuperação dos canaviais é demorada.
Caíram nos últimos dois anos os aportes das usinas na renovação de suas lavouras, que também sofreram com clima adverso na temporada 2011/12. Em contrapartida, altas de preços de açúcar e etanol, em parte provocadas pela própria quebra no Centro-Sul do Brasil, ajudaram os resultados dos principais grupos sucroalcooleiros que atuam no país.