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Cenários

<p>CNA prevê retomada só em 2007. Participação do campo no PIB do país deverá diminuir de 30% para 28,1% este ano.</p><p></p>

Da Redação 16/12/2005 – Ainda atordoados pela crise de renda na área de grãos, os produtores rurais estão cada vez mais pessimistas com o cenário desenhado para 2006. Preços baixos, superoferta mundial, crédito escasso, estoques em alta, piora nas relações de troca entre grãos e insumos, problemas sanitários e câmbio desfavorável às exportações devem manter em baixa o Produto Interno Bruto (PIB) do setor no próximo ano, de acordo com balanço da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA).

Em 2005, a renda do agronegócio deve encolher 3,4% em relação ao ano passado, para R$ 515,92 bilhões. É uma perda de R$ 18 bilhões, segundo estudo da CNA e do Cepea/USP. “É a maior queda desde a safra 1990/91. Foi um ano trágico”, confirmou o presidente da CNA, Antonio Ernesto de Salvo. “Estamos numa espécie de purgatório. O mal é irrecuperável. Agora, só em 2007”, afirmou ele. Até agora, a maior queda do PIB do setor (1,96%) havia acontecido em 1996.

Insatisfeitos com o que consideram descaso do governo Lula com a agropecuária, os produtores criticam medidas “inócuas” adotadas e avisam que o presidente não poderá usar o desempenho do setor para se reeleger. “Esse resultado vai interferir no processo eleitoral porque números bons sempre ajudam”, observou Salvo. “Não vai dar para se eleger em cima da agricultura. Tem que procurar outro setor”, avisou o presidente da CNA.

Em um balanço sobre os problemas de 2005, Salvo ponderou que a crise não atingiu todos os segmentos do setor. Ele lembrou que os grãos enfrentaram graves problemas, mas as lavouras de café, laranja e cana-de-açúcar tiveram um ano bastante favorável, apesar do câmbio. O economista Getúlio Pernambuco, da CNA, projeta uma redução de 30% para 28,1% na participação do setor no PIB global brasileiro.

Salvo alinhou alguns fatores responsáveis pela forte crise do setor. A queda de 20 milhões de toneladas na produção agrícola, a redução nas cotações dos bovinos, o crescimento da inadimplência e a “insensibilidade” do governo em apresentar soluções para o setor. “Alertamos desde fevereiro, quando fizemos uma reunião em Rio Verde [GO] com o ministro Roberto Rodrigues”, disse. “Depois veio o tratoraço em Brasília, e até agora nada foi resolvido”. Segundo ele, não adianta liberar verba para custeio depois que o produtor perdeu a melhor época de plantio.

Para corroborar seu pessimismo para 2006, Salvo divulgou uma pesquisa com 4,3 mil produtores mostrando que apenas 5% dos produtores obtiveram crédito rural totalmente a juros subsidiados de 8,75% ao ano. O sentimento se espalhou porque 67% deles admitiram reduzir a área plantada ou o rebanho e outros 62% estão dispostos a reduzir investimentos em tecnologia. Isso, diz ele, poderá provocar quedas na produtividade e na safra.

Salvo afirma que os dados revelam um “comprometimento” do crescimento do setor nos próximos anos. Ele lembrou que os sinais de desaceleração já são evidentes. O PIB da agropecuária, por exemplo, terá uma retração de 10,73% em 2005, caindo de R$ 160,65 bilhões para R$ 143,42 bilhões. Na última pesquisa com os produtores, a descapitalização ficou evidente: 95% dos 3,7 mil pecuaristas declararam ter registrado perda de renda na atividade em comparação com o ano passado. “Os produtores precisam de uma política de suporte de renda quando houver queda do faturamento”, afirmou ele.

Como parte do cenário ruim projetado para 2006, Salvo lembrou, ainda, a retração da economia no terceiro trimestre deste ano, a contínua desvalorização do dólar e um quadro político cada vez mais complicado com a proximidade das eleições. “O resultado negativo do PIB, o crescimento menor da economia no ano que vem e o dólar extremamente baixo, combinados com um quadro político complicado, formam um conjunto que leva a expectativas perigosíssimas”, concluiu o presidente da CNA.