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China, a fábrica do mundo?

A China está se transformando no grande centro de manufatura global, atraindo a atenção de inúmeras multinacionais. Neste caso, o Brasil deverá se transformar no celeiro do mundo?

Redação SI (Edição 168/2003) – A competitividade chinesa vem ameaçando a preferência de tradicionais países como os Estados Unidos, Japão, Alemanha e até a América Latina pelos grandes investimentos tecnológicos e unidades de produção em linha. A China é hoje o resultado da conversão do Partido Comunista Chinês combinada com a iniciativa estatal e à abertura ao capital privado local e internacional. De acordo com a reportagem de Diego Fonseca, intitulada O Apetite do Dragão, publicada pela revista América Economia – Edição Brasil, de fevereiro deste ano (No. 248), as exportações chinesas cresceram 50% na primeira metade de 2002 e são um elo fundamental na rede de abastecimento das multinacionais. Isso tem se traduzido em exportações da ordem de US$ 640 bilhões, o equivalente a 20% do PIB chinês, ou 100% do PIB mexicano, uma das principais potencias econômicas da América Latina.

Os baixos salários (o salário chinês por hora, incluídos benefícios e impostos, é de US$ 0,27), a abundante mão-de-obra, investimentos em capacitação tecnológica e economia em escala, além da disciplina social da comunidade chinesa, vêm desbancando as poucas vantagens competitivas alcançadas pelos países latino-americanos nos últimos anos. Ainda de acordo com a reportagem da revista América Economia, o salto do PIB chinês, em comparação ao da América Latina e Caribe, se deu a partir de 1995. De lá para cá, grandes multinacionais como a Phillips (que já conta com 23 fábricas na China, produzindo cerca de US$ 5 bilhões anuais em mercadorias), a Volkswagen, a Sony, NEC, a fábrica de filmes para raio X Kodak, entre outras, estão transferindo seus centros de produção global dos “promissores” países latino-americanos, como o México, e modernos mercados como os EUA, Japão e Alemanha, para o território chinês. Só a IBM e a Microsoft levaram para a Ásia projetos calculados em US$ 1 bilhão.

O mundo está de olhos voltados à China, devido às grandes vantagens que o país vem oferecendo para a instalação de multinacionais

A atenção do mundo se volta para a China e se distancia da América Latina. A reportagem apresenta dados da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) que a região recebeu US$ 38,9 bilhões de investimentos estrangeiros diretos em 2002, 43% menos que no ano anterior. Já a China alcançou US$ 52,7 bilhões e não deve parar por aí. “A China leva enorme vantagem no posicionamento internacional sobre a América Latina”, afirma Jesús Viejo, economista chefe do Goldman Sachs para a América Latina, em Nova Iorque, em entrevista à referida reportagem. “A América Latina está muito orientada ao comércio intra-regional e às matérias-primas, enquanto que a China vai a mercados desenvolvidos com produtos manufaturados“. O esforço chinês para posicionar com destaque seus produtos no mercado mundial não é de hoje. É um processo que já dura 20 anos, com as saídas de forma legal ou por contrabando de “badulaques” a granel.

China é o quarto maior cliente do Brasil
Esta manchete do jornal Gazeta Mercantil, do dia 14 de março deste ano, chamou a atenção dos empresários brasileiros. Em dois anos, a China saltou da 15a. posição para a 4a. entre os principais parceiros comerciais do Brasil. Em 2002, o total das exportações brasileiras para o “grande dragão” somou US$ 2,5 bilhões e, somente em janeiro deste ano, as vendas cresceram 100% em relação ao mesmo mês do ano passado. Entre os principais itens exportados à China estão: a soja (representando um faturamento anual de US$ 830 milhões), minério de ferro (US$ 600 milhões), produtos siderúrgicos (US$ 130 milhões), celulose (US$ 115 milhões) e carros (que registraram aumento de 121% no mês de janeiro de 2003 sobre o mesmo período de 2002, gerando receita de US$ 3,4 milhões). Novos itens prometem entrar na pauta das importações brasileiras para a China como a carne de frango, a carne suína e a carne bovina. Para isso, um grupo de 14 frigoríficos nacionais deverá realizar o primeiro embarque direto àquele país. O negócio, estimado em US$ 1 milhão, será a primeira investida das carnes brasileiras num mercado de 1,3 bilhão de consumidores.

Ameaça ao Brasil? – Os especialistas dizem que a América Latina, principalmente o Brasil, deve repensar sobre o que vender ao mundo. Uma das alternativas é somar valor agregado: serviços, diferenciação, marca, tecnologia e qualidade. “Os brasileiros acreditam que a China representa uma oportunidade e não uma ameaça”, sintetiza Bernd Rieger, diretor da Rieger Audioria de Investimentos, de São Paulo, na mesma reportagem sobre a potência chinesa. “Mais que enfrentar os produtos chineses, o Brasil parece querer associar-se à produção asiática para fabricar o que a China não tem”.

Foi o que sinalizou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando afirmou há poucas semanas que “a China tem que ser entendida como um parceiro estratégico, nos aspectos cultural, comercial e tecnológico”. O presidente também não esconde a sua intenção de estreitar cada vez mais as relações bilaterais Brasil/China.

No final do mês de fevereiro, o Brasil recebeu uma missão chinesa para a abertura de mercado das carnes de frango e suína in natura e bovina industrializada brasileiras para a China. De acordo com a Secretaria Executiva do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abstecimento (Mapa), as exportações das carnes brasileiras ao mercado chinês devem começar no segundo semestre de 2003.

(Agradecimentos especiais à revista América Economia – Edição Brasil)