Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Exportação

China busca carne bovina para saciar apetite da classe média; Brasil é opção

O enorme comércio não oficial reflete o apetite da China por carne bovina.

China busca carne bovina para saciar apetite da classe média; Brasil é opção

Evitando as restrições de Pequim às importações, fontes da indústria estimam que centenas de milhares de toneladas de carne bovina, provenientes de países como Brasil e Índia, foram contrabandeadas para a China através dos vizinhos Hong Kong e Vietnã.

O enorme comércio não oficial reflete o apetite da China por carne bovina. As importações oficiais quadruplicaram no ano passado, como a crescente classe média demandando mais alimentos ricos em proteína.

Pequim deve levantar em breve as restrições à importação de carne bovina do Brasil relacionadas ao registro de encefalopatia espongiforme bovina (EEB), conhecida como “mal da vaca louca”. O gigante asiático também deve finalizar um acordo para permitir a entrada de carne de búfalo importada da Índia, uma vez que outros canais de fornecimento estão encolhendo.

A Austrália, que respondeu por cerca de metade das importações oficiais da China no ano passado, enfrenta uma queda na produção.

A seca obrigou os criadores de gado do terceiro maior exportador de carne do mundo a abater vacas, alimentando temores de uma escassez global de carne bovina iminente, uma vez que o rebanho dos Estados Unidos, seu principal exportador concorrente, está no menor tamanho em seis décadas.

Com o andamento de medidas para aliviar as restrições às importações, o Brasil e a Índia estão lutando para alcançar uma fatia maior do mercado de carne bovina da China e preencher a lacuna deixada pela Austrália.

A estimativa é que as importações de carne bovina no mercado paralelo sejam superiores às importações oficiais, de 400 mil toneladas no ano passado.

“Isto não é fácil de estimar, mas de acordo com a indústria poderia ser de cerca de um milhão de toneladas, mais de duas vezes as importações oficiais”, disse Meng Qingxiang, professor da Universidade de Agricultura da China, em Pequim.

Dados oficiais da Índia mostram o Vietnã como seu maior mercado para carne bovina, apesar de Hanói não incluir os embarques da Índia em seus dados, indicando que a carne é transportada para a China.

Os dados mostram que as exportações indianas de carne de búfalo para o Vietnã saltaram 17 por cento, para 330.109 toneladas, em 2012/13 ante o ano anterior.

No caso da carne bovina brasileira, Hong Kong desbancou a Rússia como o maior comprador em 2013, com embarques crescendo três vezes, para 360 mil toneladas, de acordo com dados da associação que reúne os exportadores brasileiros (Abiec), volume que se acredita ter sido destinado para a China.

“As vendas do Brasil para Hong Kong vêm crescendo desde 2007, e durante este período o tamanho da população e o consumo de carne em Hong Kong ficou relativamente constante”, disse Pan Chenjun, analista sênior da Rabobank, em Pequim.

A alfândega chinesa disse que está continuamente reprimindo o contrabando de carne in natura e congelada e que lançou este ano uma campanha contra o contrabando de produtos agrícolas.

A alfândega está investigado 96 casos envolvendo 88 mil toneladas de produtos congelados no ano passado.

RESTRIÇÕES DEVEM CAIR
Embora atualmente não compre carne diretamente da Índia ou do Brasil, a China deve relaxar as restrições em breve.

Uma delegação de Pequim deverá visitar o Brasil para inspecionar as instalações dos produtores brasileiros, para possivelmente suspender o embargo relacionado à vaca louca imposto em 2012.

Os embarques de carne bovina brasileira poderiam começar antes de uma reunião de cúpula dos países emergentes que formam o bloco Brics no mês de junho, em Fortaleza, quando o presidente Xi Jinping deve se encontrar com a presidente Dilma Rousseff, disse o adido agrícola da embaixada do Brasil em Pequim.

“Não se trata de aprovação, uma vez que nós já temos o protocolo para exportar para a China”, disse Andrea Bertolini. “É sobre a reabertura do mercado. Nós realmente acreditamos que não há razões técnicas para manter esta proibição.”

A autoridade de quarentena da China, responsável pela aprovação dos importadores, disse que está fazendo uma avaliação de risco sobre as importações brasileiras e redirecionou consultas sobre a carne indiana e dos EUA para outro departamento.

A China assinou um memorando de entendimento no ano passado com a Índia sobre a importação de carne de búfalo, com os dois lados tentando resolver as questões finais, disseram autoridades em Nova Délhi.

A carne bovina dos EUA também está impedida de entrar na China continental devido a casos anteriores da vaca louca, mas mesmo assim, é improvável o país consiga aumentar sua participação significativamente para o mercado chinês.

“Se você considerar China, Vietnã e Hong Kong, as opções para grandes ofertas são Índia e Brasil”, disse Brett Stuart, presidente-executivo da Global AgriTrends, em Denver, Colorado.

CRESCIMENTO
As importações de carne bovina da China neste ano podem subir para 550 mil toneladas, contra 400 mil toneladas em 2013, com o consumo impulsionado ainda mais por conta do surto de gripe aviária, informou o adido agrícola do Departamento de Agricultura dos EUA em Pequim.

O Brasil tem cerca de 200 milhões de cabeças de gado, enquanto a população de búfalos na Índia é estimada em 327 milhões. Isso se compara com um rebanho de 27 milhões a 28 milhões de cabeças de gado na Austrália, que está encolhendo a cada dia com os pastos afetados por uma severa seca.

“O tamanho do rebanho da Índia e mesmo do Brasil é tão grande que vai ser um desafio e uma competição muito maiores para a Austrália”, disse Simon Quilty, analista de carne e pecuária da FCStone Austrália.

Mas ainda incertezas. As exportações de carne bovina da Índia poderiam ser prejudicadas se coalizão nacionalista hindu liderada pelo Partido Bharatiya Janata (BJP, na sigla em inglês) chegar ao poder na eleição em 7 de abril. O BJP, como muitos hindus, considera as vacas sagradas e se opõe ao consumo de carne bovina e às exportações.