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Milho

China intriga o mundo

Chineses importam milho dos EUA após quase 15 anos e analistas mundiais ainda não souberam explicar o verdadeiro motivo.

China intriga o mundo

As primeiras grandes compras de milho dos EUA pela China em mais de uma década motivaram um debate sobre se as exportações dos principais produtos agrícolas americanos estão entrando em uma nova era dourada. Mas o lado que poderia potencialmente resolver a questão (o governo chinês) quase não fala sobre o assunto.

A euforia foi inflamada em junho, quando um navio com milho dos EUA chegou ao porto de Longkou, no nordeste da China. Foi a primeira embarcação carregada de milho americano a atracar na China em cerca de 15 anos. Ele foi seguido por outros quatro.

A China importou este ano cerca de 1,2 milhão de toneladas de milho dos EUA, o maior produtor mundial, ante um total importado de outros países de menos de 100 mil toneladas em anos anteriores.

Agricultores, corretores e economistas agrícolas dividem-se em relação às implicações desse aumento. Alguns o veem como a chegada de uma época muito aguardada de grandes exportações de milho para a China, para alimentar a população cada vez mais abastada do país. Outros acham que é um fenômeno de curta duração, causado por secas recentes.

“Seja o que for que estiver acontecendo este ano, é diferente de qualquer outra coisa” que tenha ocorrido nos últimos anos, diz Jay O ‘ Neil, economista do Programa Internacional de Grãos da Universidade Estadual do Kansas.

Ele acrescentou que as recentes importações de milho da China indicam que “há menos países suprindo as necessidades de um mundo em expansão e o potencial de falta de produção de milho é um risco maior para todos”. A mudança “obviamente conduz a mais incertezas no mercado mundial de commodities e tende a levar a preços mais altos de commodities e maior volatilidade de preços”.

Prever a demanda de milho da China é complicado pelo intenso sigilo do governo chinês. O Partido Comunista por muito tempo considerou a autossuficiência em grãos um elemento crucial para a segurança nacional, e as lideranças reafirmaram este ano que a China tem como objetivo produzir 95% dos grãos que consome até 2020. Mas os detalhes da política são guardados cuidadosamente.

A autossuficiência é amplamente vista como a razão pela qual a China quase não importou milho no passado, mesmo quando os preços domésticos estavam mais altos que os internacionais.

Ninguém fora do governo chinês sabe se os carregamentos que foram permitidos este ano são temporários ou indicam uma mudança de longo prazo. O governo mantém em segredo o tamanho das reservas, e observadores questionam a precisão das estatísticas sobre produção e consumo.

A confusão em relação ao milho é um indício de um embate maior entre a crescente influência global da China e práticas do governo que em alguns aspectos mudaram pouco durante três décadas de reforma de mercado. Espera-se que a China ultrapasse o Japão este ano como a segunda maior economia do mundo, atrás dos EUA, mas as principais políticas ainda são criadas em segredo por um pequeno grupo de líderes do partido. Especialistas estrangeiros reclamam da falta de transparência dos números oficiais, e a incerteza em relação às políticas de Pequim já turvaram outros mercados mundiais de commodities, como o de petróleo.

Buscar mais clareza pode ser arriscado: vagas leis de sigilo de Estado já foram usadas para colocar na cadeia analistas que recolheram informações que o governo considera sigilosas. No mês passado, o geólogo americano Xue Feng foi condenado a oito anos de prisão por suas pesquisas sobre a localização de poços de petróleo.

O Ministério da Agricultura da China se recusou a conceder uma entrevista sobre a política para o milho, alegando que o assunto é delicado. A Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento (NDRC), principal agência de planejamento econômico da China, também recusou pedidos de entrevista. Nem mesmo especialistas ocidentais na China quiseram discutir o assunto publicamente.

O governo Obama fez poucos comentários sobre os carregamentos americanos para o país, embora os EUA tenham eleito a expansão das exportações como parte vital da estratégia econômica.

Em um raro comentário sobre o assunto no seu site na semana passada, a NDRC minimizou a importância das recentes importações de milho. A comissão afirmou que as importações foram estimuladas pelos preços mais altos do milho no mercado doméstico, mas enfatizou que elas não vão prejudicar os produtores chineses de milho e que as reservas de grãos estão adequadas. O comunicado não mencionou por quanto tempo as importações de milho vão continuar.

Analistas concordam que a oferta de milho na China se tornou pequena com a crescente classe média, que consome cada vez mais carne, leite e ovos de animais que comem ração de milho – assim como refrigerantes que usam adoçantes à base de milho. Secas no cinturão de milho do nordeste da China nos últimos dois anos reforçaram o temor com o suprimento.

A China costumava ser um importante exportador líquido de milho, competindo com os EUA, mas as suas exportações caíram para apenas 172 mil toneladas em 2009, ante 15,2 milhões de toneladas em 2003, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA.

Analistas dizem que a China pode importar tanto quanto costumava exportar. O presidente da consultoria Shanghai JC Intelligence, Hanver Li, projetou que o país poderá ter de importar 5,8 milhões de toneladas em 2011 e 15 milhões de toneladas em 2015. Li anunciou “uma nova era das importações chinesas de milho”.