Redação (06/08/2008)- Diante do temor de desaceleração da economia mundial, o mercado presta atenção aos indicadores chineses. Ontem, o Centro Nacional de Informações sobre Grãos e Óleos da China divulgou relatório em que admite que há grandes estoques e demanda fraca por óleo e farelo de soja, segundo informou a agência Bloomberg. O receio é de que o país desacelere as compras de soja, o que ainda não é consenso entre analistas do Brasil.
Em todo o ano de 2008, a previsão era de que a China importasse 35,5 milhões de toneladas de soja. Até junho, 27 milhões de toneladas, ou 76% do previsto, já foram comprados pelo país. "Acredito que se houver redução de compras será por questões pontuais e que não devem comprometer a meta para o ano", avalia Glauco Monte, consultor de gerenciamento de risco da FCSTone. Ele pondera que, por conta das Olimpíadas, já estava previsto uma demanda menor por óleo e farelo. Além disso, o próprio governo chinês tomou algumas medidas para reduzir a atividade industrial no país por conta dos jogos olímpicos, o que pode ter reduzido a produção de óleo no país e a demanda, portanto, por soja em grão. "Trata-se de diminuição pontual. A China comprou mais do que estava sendo esperado. Depois das Olimpíadas, teremos que monitorar o que vai acontecer", completa Monte.
Segundo a Bloomberg, as reservas de óleo de cozinha da China ocupam toda a capacidade de armazenagem e a demanda poderá não crescer antes do final deste mês, disseram analistas, como Gao Yingbin, da China CerealsOils Business Net, consultoria especializada em óleos vegetais. O receio é de que a queda das compras da China deprecie ainda mais os preços da soja, que hoje voltou a cair na Bolsa de Chicago (CBOT) – leia matéria abaixo. "Desaconselhamos nossos clientes das tradings de comprar grandes volumes de oleaginosas e de óleos vegetais porque ninguém sabe até onde os preços da oleaginosa vão cair", disse Gao. "A demanda continua fraca".
O contrato de óleo de soja e de óleo de palma negociado na Bolsa de Commodities de Dalian, na China, caiu ontem pelo limite diário de 5%, depois de uma ampla retração das commodities causada pelo receio de que a demanda vá desacelerar juntamente com a perda de impulso do crescimento da economia.
A superintendência das reservas governamentais chinesas devem ter encomendado, no mês passado, 400 mil toneladas de óleo de soja, que deverão chegar na China em setembro e outubro, disse Gao. Os administradores das reservas poderão ser obrigados a promover uma venda maciça de até 250 mil toneladas de óleo de soja para dar lugar aos novos volumes pedidos, disse Gao à Bloomberg.
Como a superintendência das reservas estatais está sendo determinada pelo governo a baixar a inflação na área de alimentos, elas vão vender os estoques a preços abaixo do custo, se necessário, possibilidade que vem causando pânico no mercado, afirmou Gao. Pelo fato de a administração das reservas governamentais não terem anunciado suas intenções, as operadoras comerciais se desvencilharam de seus estoques para reduzir os riscos, e as processadoras de soja, por sua vez, foram obrigadas a interromper as operações, disse ele.
Flávia Moura, vice-presidente da área de grãos da consultoria New Edge está mais temerosa sobre os efeitos da crise americana na China e no Brasil. "Acredito que depois das Olimpíadas a demanda na China deve cair um pouco. O Brasil também deve ser afetado, sobretudo por causa do endividamento alto da população, que vai atingir a demanda", avalia a especialista da New Edge.
Efeito no Brasil
Até agora, a crise financeira nos Estados Unidos parece não ter afetado a demanda da China, pelo menos, no que diz respeito aos produtos do agronegócio exportados pelo Brasil. No primeiro semestre deste ano, o país asiático comprou 24% mais do agronegócio brasileiro. As vendas aos chineses saíram de R$ 3,7 bilhões de janeiro a junho de 2007 para US$ 4,6 bilhões em igual período deste ano. O complexo soja foi o principal responsável pelo aumento. Até junho, os chineses importaram US$ 3,1 bilhões entre grão, óleo e farelo, ante os US$ 2,5 bilhões do mesmo semestre de 2007.
O bom desempenho chinês na balança do agronegócio brasileiro desbancou os Estados Unidos que, até o ano passado, vigorava na primeira posição entre os maiores importadores. No ano de 2007, a China representava 8% das exportações do agronegócio do Brasil, percentual que até junho deste ano está em 11,7%.
Os Estados Unidos, por outro lado, estão comprando 8,5% menos produtos agrícolas do Brasil e neste ano estão em terceiro lugar no ranking de importadores. Alguns setores estão sendo mais penalizados com esse baixo desempenho americano, sobretudo os ligados ao setor moveleiro, afetado diretamente com a crise imobiliária. As importações de produtos florestais aos Estados Unidos caíram neste ano para US$ 979 milhões, ante os US$ 1,092 bilhões do primeiro semestre do ano passado. Já em 2007, o mercado sentiu um arrefecimento das importações desses produtos pelos Estados Unidos na ordem de 8,6%. O mercado americano também estão importando menos couro e carnes do Brasil, o que também já afeta a receita das indústrias frigoríficas do Brasil.
ADM tem lucro menor
A Archer Daniels Midland Co. (ADM), a maior processadora de grãos do mundo, disse que seus lucros do quarto trimestre caíram 61%, depois que ganhos de vendas de ativos aumentaram os resultados do mesmo período do ano passado e que os lucros do processamento das safras agrícolas diminuíram.
O lucro líquido registrado pela ADM no período de três meses encerrado em junho caiu para US$ 372 milhões, ou US$ 0,58 por ação, em relação aos US$ 955 milhões, ou US$ 1,47 por ação, do mesmo período do ano passado.