A diferença de preços criada pelos prêmios negativos nos portos brasileiros e positivos nos americanos eventualmente pode abrir espaço para triangulações pouco comuns no mercado de soja. Ontem, por exemplo, veio à tona a informação de que uma das maiores empresas importadoras de soja da China revendeu três carregamentos do grão produzido no Brasil a companhias processadoras nos Estados Unidos.
Conforme a agência Bloomberg, quem fez a operação foi a Shandong Sunrise Grain and Oil Trading, que tem sua sede na Província de Shandong. Segundo Sterling J. Smith, vice-presidente do mercado de futuros do Citi, o volume negociado superou 180 mil toneladas e a companhia chinesa já deu sinais de que poderá fechar novos negócios semelhantes.
De acordo com a Bloomberg, uma queda na demanda na China por causa da gripe aviária – que causou o extermínio de aves – e da baixa dos preços dos suínos reduziu a demanda do país e incentivou a “transferência” dos carregamentos de soja brasileira para os EUA. Analistas ouvidos pelo Valor lembraram que também há problemas logísticos na China e, nesse contexto, os prêmios negativos do grão nos portos do Brasil facilitam eventuais redirecionamentos.
“A China tem comprado muito mais grãos do que consegue absorver”, afirmou à Bloomberg o presidente da Shandong Sunrise Grain and Oil, Shao Guorui. O executivo disse que a empresa, que tem evitado fechar novas compras nas últimas semanas, perdeu 100 yuans (cerca de US$ 16) por tonelada para revender a soja brasileira aos americanos, mas calculou que, se não fosse por isso, teria perdido cerca de 800 yuans (US$ 130).
Em 2013, a trading chinesa importou, de distintas origens, cerca de 10 milhões de toneladas de soja em grão, ou 16% do volume total comprado pelo país no exterior.
Apesar de ter chamado a atenção, a triangulação da empresa não influenciou o rumo das cotações ontem na bolsa de Chicago. Os contratos do grão com vencimento em julho encerraram o pregão a US$ 14,1075 por bushel, em alta de 15 centavos de dólar em relação ao fechamento da véspera.
Contaminada por movimentos especulativos, a valorização, disseram traders, foi influenciada pelo clima seco no Brasil e mesmo por uma demanda ainda aquecida por soja dos EUA – ainda que a maior importadora da China garanta que não está comprando nada.