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Chineses dão preferência à soja do Brasil

A China já é, disparado, o maior importador da soja brasileira. De janeiro a setembro, de um total de exportações do grão de US$ 27,6 bilhões, foram para o país asiático US$ 16,8 bilhões.

Chineses dão preferência à soja do Brasil

A China acenou ao Brasil que planeja adotar como política de governo a decisão de comprar mais soja brasileira e menos dos Estados Unidos. Segundo relatos de participantes da grande reunião bilateral anual realizada ontem em Cantão, o vice-primeiro-ministro chinês, Wang Yang, disse que o tema será examinado na plenária do Partido Comunista, entre os dias 9 e 12.

“A promessa é que eles vão comprar mais soja do Brasil. Isso foi repetido duas vezes”, confirmou o vice-presidente da República, Michel Temer, que liderou a delegação brasileira. Para o governo chinês, é um dos sinais do interesse do país de continuar ampliando os negócios com o Brasil na área agrícola. Pequim precisa continuar importando cada vez mais produtos como soja e milho para atender à demanda doméstica.
 
No caso da soja, a China também tem em vista, com a promessa ao Brasil, a tendência de avanço da produção brasileira e de desaceleração da oferta americana, em detrimento do milho. Nesta safra 2013/14 – em fase de colheita no Hemisfério Norte e de plantio no Hemisfério Sul -, o Brasil já tende a superar os EUA na produção e nas exportações da oleaginosa.

Conforme a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a China representou 61% da receita total das exportações de soja e derivados (farelo e óleo) do Brasil entre janeiro e setembro deste ano. No período, essas importações chinesas somaram US$ 16,8 bilhões.

Essas compras, contudo, são concentradas no grão, e não nos derivados, de maior valor agregado. Por questões econômicas estratégicas, a China estimulou nas últimas décadas pesados investimentos estrangeiros na construção de unidades de processamento da matéria-prima em seu território. Grande parte de sua oferta doméstica de farelo e óleo, portanto, já é doméstica.

Ao mesmo tempo em que acena ao Brasil, empresas chinesas recentemente assinaram acordos com exportadores dos EUA para comprar 4,8 milhões de toneladas da soja americana, por cerca de US$ 2,8 bilhões. Segundo analistas, esse volume de soja americana será transportada na safra atual, antes que a próxima colheita da América do Sul entre no mercado, no primeiro trimestre do ano que vem.

No encontro bilateral de ontem, também foi assinado o protocolo fitossanitário que pavimenta o terreno para exportadores brasileiros de milho terem acesso ao mercado chinês. Estima-se o potencial de embarques em pelo menos 10 milhões de toneladas por safra, ou cerca de US$ 2 bilhões a preços atuais, como informou ontem o Valor.

O governo chinês insistiu que deseja explorar com o Brasil maneiras de promover o comércio bilateral direto de commodities agrícolas, sem a intermediação das tradings tradicionais.

Nesse cenário, Pequim informou que planeja enviar uma missão para a aquisição de mais soja no Brasil em 2014 e pediu apoio de Brasília. O lado brasileiro respondeu positivamente. Disse que apoiará qualquer missão da China nesse sentido e indicou a importância de companhias chinesas investirem na cadeia de produção da soja no Brasil.

Mas as autoridades brasileiras explicaram a importância das tradings tradicionais para os exportadores agrícolas em termos financeiro e de apoio logístico. Ou seja, a mensagem de Brasília foi que não existe impedimento legal para o comércio direto ocorrer, mas que não pode impedir a ação das tradings.

O fato é que a proposta chinesa de “cooperação em agricultura” com o Brasil, um “pacote” que cobre comércio direto, investimentos e intercâmbio empresarial no setor, visa consolidar e ampliar o espaço já conquistado nas transações com o país. Segundo a delegação brasileira, a estratégia chinesa pode gerar investimentos também em logística.

A delegação sugeriu que as empresas chinesas ampliem e diversifiquem seus aportes no Brasil, inclusive nas zonas de processamento de exportação (ZPE), onde é possível trabalhar com produtos agrícolas – e praticamente livre de impostos. O Brasil tem várias ZPEs aprovadas, mas apenas duas funcionando, no Ceará e no Acre. Uma terceira poderá estrear no curto prazo no Piauí.