Influenciado por forte descompressão dos produtos agrícolas, o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) recuou de 1,29% para 0,88% entre agosto e setembro e confirmou que o efeito do choque de commodities após a seca nos Estados Unidos ficou para trás no atacado. Analistas apontam, no entanto, que o impacto da recente escalada dos grãos sobre a indústria alimentícia foi intenso, o que indica inflação de alimentos ao consumidor em patamar ainda pressionado ao longo de outubro, apesar da tendência de recuo dos IGPs.
Na passagem de agosto para setembro o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) – que representa 60% do IGP-DI – se desacelerou de 1,77% para 1,11%, puxado pelos produtos agropecuários, que, após salto de 5,19% na leitura passada, subiram 1,98% na atual. Os produtos industriais, no entanto, mostraram trajetória inversa ao avançarem de 0,47% para 0,76%, puxados pelos alimentos processados, que saltaram de 1,75% para 3,68%. A principal pressão veio da carne bovina, com aumento de 8,9%, contra queda de 0,29% na medição de agosto, segundo maior impacto positivo sobre o IGP-DI.
Thiago Curado, da Tendências Consultoria, afirma que o efeito secundário da disparada de commodities sobre a cadeia de alimentos foi maior que o antecipado e aponta para manutenção de preços elevados nesse grupo ao consumidor em outubro, após alimentação e bebidas ter subido 1,26% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro. Segundo Curado, a transmissão do IPA agropecuário para o varejo é lenta, mas quando a aceleração vem de alimentos industrializados o repasse é rápido.
No boletim Focus desta segunda-feira o mercado revisou para cima, pela 13ª semana consecutiva, de 5,36% para 5,42%, suas expectativas para o aumento do IPCA em 2012. Para o analista, esse movimento está associado a uma alta dos alimentos acima do previsto por economistas no IPCA de setembro. “A variação dos alimentos processados no IGP-DI indica que essa pressão deve se manter ao longo de outubro.”
Após a forte subida dos grãos no atacado, Thiago Carlos, da Link Investimentos, revisou seu cenário para os preços de alimentos nos três meses finais do ano e aumentou sua projeção para a alta acumulada do IPCA em 2012, de 5,3% para 5,5%. “O impacto da alta das commodities sobre o varejo deve começar a ceder somente a partir de novembro, quando a sazonalidade já é de alta”, explicou.
Para o coordenador de inflação da FGV, Salomão Quadros, os produtos agrícolas não devem ser mais vetor de aceleração dos IGPs neste ano, mas o efeito da valorização de soja e milho sobre outros alimentos será notado até novembro. “De qualquer forma a força da alta de preços de alimentos não será suficiente para acelerar os IGPs”, afirmou.
Enquanto o IPA recuou, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que pesa 30% no IGP-DI, subiu de 0,44% em agosto para 0,54% em setembro, com destaque para o grupo alimentação, que passou de 1,09% para 1,23%. O preço do frango inteiro aumentou 3,6% em setembro, após alta de 2,02% em agosto.
Em razão do repasse da valorização das commodities no mercado internacional para o varejo, Quadros projeta aceleração do item alimentação no IPC em outubro e novembro. Outro fator que pressionou o IPC foi vestuário, que caiu 0,57% em agosto e aumentou 0,6% em setembro. “É uma aceleração sazonal, provocada pela mudança da coleção de roupas a partir da troca de estações, de inverno para primavera. É um efeito que não se repetirá nos próximos IGPs.”
O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que responde por 10% do IGP-DI, por sua vez, se desacelerou na passagem de agosto para setembro, de 0,26% para 0,22%. Segundo Quadros, a trajetória esperada para o INCC nos próximos meses é de estabilidade, com chances de recuo, já que o único reajuste salarial da categoria previsto para o fim do ano será em Recife, capital com pouco peso no índice da construção.