Não é de hoje que o banco norte-americano Goldman Sachs destaca a força das economias emergentes. Desde 2001, após a criação do termo Bric – grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China -, os olhos do mundo se voltaram com mais atenção para os quatro países. E, no pós-crise, a coisa ficou ainda mais evidente. Segundo o banco, nos próximos dez anos, o Bric terá um PIB combinado de US$ 37 trilhões e, até 2050, estarão – todos – no ranking das cinco maiores economias do mundo, dividindo espaço com os Estados Unidos.
O iG teve acesso a um relatório do Goldman Sachs no qual o banco aponta as razões e as oportunidades que surgirão com o protagonismo dos emergentes nas próximas décadas. Os setores de consumo, infraestrutura e commodities terão aumentos “drásticos” por conta do crescimento da classe média dos países emergentes.
“Como o centro econômico do mundo se desloca em direção às economias emergentes nas próximas décadas, acreditamos que as multinacionais têm uma oportunidade única para se posicionar para o crescimento econômico da classe média”, diz o Goldman Sachs.
Nos próximos 20 anos, projeta o banco, a China assumirá o posto de maior economia global, com o 49º maior PIB per capita do mundo. O Brasil, por sua vez, subirá três posições e será a quinta maior economia do mundo em 2030, com o 47º PIB per capita – a soma das riquezas produzidas divida pelo número de habitantes do país. Para 2050, o cenário é ainda melhor: China, Estados Unidos, Índia, Brasil e Rússia formarão o top-5 da economia mundial. “Em apenas 20 anos, o PIB mundial será dominado por países do bloco de renda média e não por nações ricas, como é hoje”, diz o banco.
Com a riqueza migrando de mãos, passa a emergir uma nova classe consumidora com um alto poder de compra. Até 2050, segundo o Goldman Sachs, o mercado consumidor de produtos industrializados nas economias emergentes deverá crescer na casa dos US$ 10 trilhões (valor duas vezes maior que o PIB do Japão – a segunda maior economia do mundo – em 2009).
Os gastos médios de consumidores norte-americanos com produtos embalados são de US$ 2 mil anuais, enquanto, nos emergentes, o valor cai para US$ 200. O Goldman Sachs aponta que o crescimento de US$ 1 mil no PIB per capita gera uma elevação de US$ 40 nos gastos com produtos embalados. “Esperamos um crescimento forte e constante desses produtos, na medida em que aumenta o poder de compra das famílias.”
Além da oportunidade para as multinacionais do setor, o Goldman Sachs também projeta ganhos expressivos para companhias agrícolas, uma vez que a demanda por alimentos e energia crescerá de forma substancial no mesmo período.
“Como as pessoas se tornam mais prósperas, elas melhoram suas dietas com produtos de mais qualidade”, diz o relatório. “As pessoas tendem a consumir mais proteínas na forma de carne bovina, suína e de aves.” A Organização das Nações Unidas (ONU) espera que o consumo desses produtos cresça 16% nos países em desenvolvimento até 2018.
Ao mesmo tempo, ganham destaque, também, as empresas dos setores de tecnologia e de finanças, já que uma maior parcela da população passará a ter acesso a produtos e serviços destes dois segmentos.
Troca de gerações
Além do fortalecimento da classe média nos emergentes, pelo menos mais dois grandes fatores são apontados pelo Goldman Sachs como impulsionadores da economia global no longo prazo: a aposentadoria da chamada geração baby boomers e o surgimento de uma nova geração, que assumirá as rédeas do mercado de trabalho e de consumo nesta década.
“Estamos diante da intersecção de três forças poderosas, que trarão mudanças populacionais inéditas, com implicações diretas no consumo e investimentos pessoais”, disse o Goldman Sachs, no relatório.
Cada uma dessas forças, afirma o banco, beneficiará diretamente grandes empresas de setores como saúde, tecnologia, consumo, bancos, infraestrutura, entre outros. Entre as brasileiras listadas estão Petrobras, Brasil Foods, Bradesco, Cielo e Hypermarcas.
A primeira mudança apontada pelo banco é a aposentadoria da chamada geração dos Baby Boomers (explosão de bebês, na tradução livre). Nascidos entre os anos de 1945 e 1964, no período pós-guerra, a geração mudou os hábitos de consumo dos norte-americanos e responde, atualmente, por 26% da população local.
“Com os mais velhos dos baby boomers completando 65 anos em 2011, a próxima transformação econômica nos Estados Unidos será dada com sua aposentadoria. O impacto dessa mudança será sentido em toda economia nacional, especialmente nos setores de saúde, finanças e consumo”, diz o Goldman Sachs.
Dados do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos mostram que o pico de consumo dos norte-americanos é dado entre os 55 e 64 anos. Após ultrapassar esta faixa etária, os gastos caem 17%. “Os boomer buys (explosão de compradores, em tradução livre) da última década serão os boomer sells (explosão de vendedores, em tradução livre) desta década.”
Ao mesmo tempo em que os baby boomers perdem força, surgem duas novas ondas geracionais: os Millennials, ou Geração Y, que estão atualmente na faixa etária dos 16 aos 29 anos, e a Geração Z, na faixa do zero aos 4 anos.
As novas gerações estão muito mais ligadas a tecnologias e consumo, e o impacto da entrada delas no mercado de trabalho será significativo para as multinacionais do setor, segundo o Goldman Sachs.