Há um novo round no cabo de guerra entre países industrializados e emergentes nas negociações pelo acordo climático das Nações Unidas a ser fechado em Copenhague, em dezembro. Ontem (05/10) , na rodada de Bancoc, na Tailândia, o chefe da delegação chinesa, Yu Qingtai, fez uma manifestação dura contra os ricos: “Ainda não vi um país desenvolvido declarar em público, à comunidade internacional e à sua própria população, que eles não estão aqui para matar o Protocolo de Kyoto”. O porta-voz do G-77, Lumumba D’Aping foi ainda mais direto: “Ficou evidente que a intenção dos países desenvolvidos é liquidar o Protocolo de Kyoto”.
A ameaça de enterrar Kyoto contraria os interesses do G-77 mais a China, o eclético grupo que reúne emergentes, nações em desenvolvimento e países pobres, e significa alterar as regras do jogo com apenas nove dias de negociação pela frente antes de Copenhague.
Os negociadores têm quatro dias em Bancoc e mais cinco em Barcelona, em novembro, e depois Copenhague. Trabalham, na Tailândia, na redução de um texto complexo, de 180 páginas, com todas as propostas que surgiram até agora. Para fechar um acordo em dezembro tem que estar sobre a mesa um documento bem mais enxuto. Como há dezenas de arestas em aberto, pontos cruciais em suspenso (metas maiores de corte de emissão pelos industrializados e recursos financeiros para que o resto do mundo consiga se adaptar à mudança do clima e ter tecnologias mais limpas), e as decisões na ONU têm que ser tomadas por consenso, um acordo em Copenhague parece improvável.
Kyoto estabelece metas de cortes de emissão de gases-estufa para 37 países ricos cumprirem entre 2008 e 2012. O que está em jogo é o que acontece depois de 2012. O G-77 sempre defendeu um novo período de Kyoto e um acordo mais forte, com novos mecanismos, metas e contribuições, mas dentro da arquitetura do protocolo. Uma das tensões, nas entrelinhas, é que os emergentes também tenham compromissos de redução. É a cobrança dos poluidores do passado aos poluidores do futuro.
Em Bancoc, o que estava nas entrelinhas saltou para a plenária. “O estresse ocorreu porque os Estados Unidos disseram que nem sentam para conversar se os países em desenvolvimento não assumirem compromissos”, diz Suzana Kahn, secretária de mudanças climáticas do Ministério do Meio Ambiente do Brasil. “Acho isso bom, porque pressiona todo mundo a tomar posição.” Os emergentes se comprometeram a desviar sua curva crescente de emissões – ou seja, manter a tendência de crescimento da economia, mas poluindo menos. O Brasil tem dito que vai levar números a Copenhague. Na terça-feira, o MMA apresenta números ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e é daí que sairá a meta que o Brasil irá apresentar. Estes dados estão ligados aos resultados que o país pode obter com o plano nacional de combate ao desmatamento. O plano estabelece uma redução de 80% em 2020 no desmatamento em comparação aos valores atuais.
China e Índia acenaram na mesma direção há poucos dias, nos Estados Unidos, mas sem mencionar números de qualquer espécie. O presidente chinês Hu Jintao disse em Nova York que o país irá se empenhar em cortar emissões “por unidade de PIB em uma proporção notável até 2020 em relação a 2005”. O ministro do Meio Ambiente da Índia, Jairam Ramesh, disse que o país continuará rejeitando qualquer acordo que coloque um teto nas emissões, mas disse que a Índia poderá aceitar metas “implícitas”. Agora, em Bancoc, o cenário parece ter se complicado.
“É como se a cinco minutos do final do jogo um dos lados começasse a falar em novas regras, novo formato e novo mandato e espere que o outro lado concorde além de fazer disso uma pré-condição para continuar no jogo”, reclamou o chefe da delegação chinesa. “Não é um jeito correto de negociar.” Anders Turesson, o chefe da delegação sueca (a Suécia está na presidência rotativa da União Europeia) disse que a Europa é fiel ao sistema de Kyoto. “Nós vamos garantir que este sistema seja fortalecido no futuro.”