O vice-presidente comercial para a América Latina da fabricante de tratores e colheitadeiras Case New Holland (CNH), Francesco Pallaro, adianta que vai comer o panetone de 2009 feliz. “Deveria ter feito isso no Natal passado”, acrescenta, sobre os temores de um ano atrás, quando o cenário de crise tornou as projeções pessimistas. “Com os altos e baixos da agricultura já sabíamos lidar, mas não com a falta de crédito. A previsão era das piores”. Mas as coisas não foram tão ruins, em especial no mercado doméstico, cujas vendas devem empatar com 2008.
Parte do entusiasmo recente do executivo tem a ver com o anúncio, na semana passada, da segunda fase do Trator Solidário, do governo do Paraná, que incentiva a mecanização das pequenas propriedades rurais. De setembro de 2007 a setembro de 2009, a CNH forneceu 4,2 mil tratores ao programa. A intenção do Estado é entregar mais 4 mil unidades e os recursos para a nova rodada somam cerca de R$ 220 milhões. Ou seja, é quase como ter contratos garantidos para o próximo exercício.
De início, o governo não quis aceitar reajustes e chamou concorrentes da CNH, mas não houve interessadas em manter os preços praticados e, agora, ele admite aumento de cerca de 5%. “Houve reajuste no aço e no salário dos empregados”, diz Pallaro, que encaminhou a documentação ao Estado para a nova rodada de vendas. O secretário da Agricultura do Paraná, Valter Bianchini, explica que outras fabricantes podem participar se concordarem com os preços estipulados para a entrega, e a meta é vender ao menos 250 tratores por mês até dezembro de 2010.
Mas Pallaro diz que está seguro de que tem vantagens sobre as outras por produzir no Estado – de imposto e de logística. Ele cita que o Paraná possui 397 mil propriedades, a grande maioria sem mecanização. “Era um mercado potencial. Faltava crédito, que foi obtido com política”. O vice-presidente afirma que o esforço do governo para ajudar a indústria automobilística foi determinante para injetar confiança no mercado.
Pallaro lembra que 2007 foi um ano de bons resultados, assim como 2008, com exceção dos últimos dois meses, quando caíram as vendas de tratores e de colheitadeiras. O primeiro semestre de 2009 continuou difícil, mas “as coisas começaram a se mexer em agosto”. Em anos normais, o segundo semestre já costumava ser melhor para o segmento. Agora, a expectativa é de que o volume de tratores seja semelhante ao de 2008, embora a participação dos com menos de 100 cavalos tenha passado de 58% para 76%.
No momento, os olhos estão voltados para o comportamento das vendas nos EUA e na Europa. Pallaro explicou que nesses mercados as vendas de máquinas agrícolas não caíram de imediato, por causa de mecanismos de subsídio e seguro. O recuo começou agora. A subsidiária já vinha enfrentando queda nas exportações. Em 2008, as vendas externas responderam por 25% da produção local; em 2009, serão 10%.
A companhia mantém-se conservadora sobre as exportações, mas já admite que 2010, um ano eleitoral, “seguramente será melhor”, tanto no mercado doméstico como no externo.