Preocupado com a retração da atividade na Europa devido à crise financeira e econômica que atinge o continente, o governo Dilma Rousseff concluiu que não poderá contar com os países da União Europeia para manter o crescimento das exportações brasileiras no ano que vem. Em recente reunião no Palácio do Planalto, a presidente e seus principais auxiliares decidiram estudar alternativas para redirecionar os produtos que seriam normalmente embarcados ao mercado europeu.
Duas consequências imediatas dessa análise já podem ser observadas no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O ministro Fernando Pimentel voltará à África nos próximos dias, onde buscará colher os frutos dos negócios prospectados na viagem de Dilma ao continente. Pimentel vai a Angola, África do Sul e Moçambique.
A pasta também pensa em criar mecanismos de financiamentos “personalizados” para exportações a mercados em que o comércio exterior esteja exposto a maiores riscos. Como revelou o Valor, o governo prepara uma estratégia para reforçar a presença brasileira na África. O Executivo também poderá reforçar as ações de promoção comercial no Oriente Médio e na América Latina. Em outra frente, manterá os esforços para combater barreiras comerciais enfrentadas pelos produtos nacionais no mercado internacional.
“O mercado europeu é um mercado que, de fato, requer atenção da nossa parte”, comentou a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Tatiana Lacerda Prazeres. “As opções para as exportações brasileiras sãos aqueles mercados que crescem num ritmo maior. Estamos atentos às novas fronteiras do comércio exterior. A ideia é que possamos reforçar a nossa atuação nos mercados menos tradicionais, que são os mais dinâmicos.”
O sinal de alerta tem fundamento. Os números da balança comercial de outubro já evidenciaram uma desaceleração das exportações para a União Europeia no último mês, em relação ao mesmo período de 2010. As vendas para a América Latina e o Caribe (exceto o Mercosul) cresceram 44,5% em outubro, ante avanços de 39,3% para as exportações aos Estados Unidos, 33,5% para a África, 23,8% à Ásia e 20,6% ao Mercosul. Já as exportações para a União Europeia subiram apenas 13,2% em outubro, uma desaceleração significativa ante a elevação de 27% verificada no acumulado de janeiro a outubro. Por enquanto, os embarques do Brasil para a União Europeia somam US$ 44,3 bilhões em 2011.
“As exportações [para a União Europeia] cresceram num ritmo mais lento. É algo atípico”, constatou a secretária de Comércio Exterior do MDIC.
A pauta de exportações do Brasil para os países da União Europeia é composta sobretudo por produtos básicos. De acordo com o ministério, no entanto, houve quedas nos embarques de aviões (37%), automóveis de passageiros (80,4%), calçados (32,2%), móveis (29%), veículos de carga (22%), refrigeradores e congeladores (45%). Como se trata majoritariamente de produtos de consumo, avalia o ministério, esses dados podem indicar a queda do poder aquisitivo dos consumidores do bloco.
Do ponto de vista dos países, caíram as participações nas exportações brasileiras para Alemanha, Reino Unido, Espanha e Bélgica. Já as vendas para o Leste Europeu, Áustria, Suécia e Finlândia cresceram mais que a média das exportações para o bloco.
Tatiana pondera, por outro lado, que a meta de exportações de US$ 257 bilhões fixada para 2011 deve ser superada. “O aumento das exportações para outros mercados mais do que compensou”, afirmou a secretária, acrescentando que as vendas para os Estados Unidos estão crescendo mais que a média das exportações totais do país.