O Paraná, maior produtor e exportador de carne de frango do Brasil, está ganhando mercado com o chamado frango muçulmano. Entre 2009 e 2011, os negócios com a Arábia Saudita, Emirados Árabes e Kuwait, países que ocupam três das seis primeiras posições no ranking dos principais mercados consumidores da ave paranaense, aumentaram 70%, alcançando a cifra de US$ 685 milhões no ano passado. De acordo com dados do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar), 35% dos 1 milhão de toneladas de frangos exportados pelo estado no ano passado tiveram como destino o Oriente Médio a produção total foi de 3 milhões de toneladas.
Para atender tamanha demanda, as empresas do setor estão sendo obrigadas a investir para adaptar os sistemas de produção as exigências impostas pelos compradores. As condições para concretizar os negócios não estão apenas nos quesitos sanitários, já que a legislação brasileira é bastante rigorosa. Atender as tradições religiosas e culturais dos países do Oriente Médio é a preocupação do setor. A principal exigência é o abate Halal – a palavra árabe significa legal, permitido, um processo rápido onde o animal não sofre.
“O abate Halal está sendo implantado e as plantas do Paraná adaptadas. O mundo muçulmano é muito grande e o frango é uma excelente opção para alimentação”, diz Domingos Martins, presidente do Sindiavipar. O alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, proíbe o consumo de suíno e a carne de boi é muito cara. “As indústrias que puderem, devem investir, pois o Oriente Médio será o maior comprador de frango do Paraná por muitos anos”, complementa.
Atenta ao mercado, a BRFoods adaptou parte das suas 60 plantas espalhadas pelo país para produção do ‘frango muçulmano’. A marca exporta 28% de toda a produção da ave para países do Oriente Médio. “Esqueça vender para eles se o abate não for Halal”, adverte Giovani Rissi, gerente de pesquisa e desenvolvimento internacional e food services da BRFoods.
A marca tem duas plantas preparadas especialmente para atender os países muçulmanos. A fábrica em Carambeí, nos Campos Gerais, tem praticamente toda a produção de 500 mil cabeças/dia destinada ao Oriente Médio. A outra é na cidade de Videira, em Santa Catarina. “São plantas vocacionadas para este mercado”, diz Rissi.
Além do ritual Halal, as indústrias precisam ter funcionários muçulmanos nativos ou covertidos realizando a tarefa, placas com o dizer “Alá seja louvado” espalhadas pelo local de abate e uma sala de oração em direção a Meca onde os trabalhadores podem realizar as orações durante o expediente.
Investimento – A Cocari, cooperativa instalada em Mandaguari, no Norte do estado, está investindo R$ 88 milhões na construção da sua primeira unidade industrial de aves. A fábrica, com inauguração prevista para agosto, está sendo projetada para atender às exigências do Oriente Médio, entre outros possíveis parceiros como a comunidade europeia.
“O local de abate será voltado para Meca, um dos requisitos. Esse é um cuidado a mais que estamos tendo. Assim, quando as missões dos países árabes vierem para verificação será mais fácil de homologarem a fábrica e estabelecermos relações comerciais”, afirma Cláudio Rogério Raimundini, gerente de novos negócios da Cocari.
Quando inaugurada, a unidade terá capacidade de abater 200 mil aves/dia, com possibilidade de alcançar 350 mil cabeças/dia. Segundo o executivo, a ideia é que entre 40% e 60% da produção sejam destinados a exportação, prevista para começar no segundo semestre de 2013.
Números – US$ 685 milhões foram gerados com exportação para Arábia Saudita, Emirados Árabes e Kuwait em 2011. O valor é 70% maior em relação aos negócios de 2009 com o Oriente Médio – US$ 400 milhões.
R$ 88 milhões estão sendo investidos pela Cocari, cooperativa instalada em Mandaguari, na construção da sua primeira unidade industrial de aves. A fábrica é projetada para atender às exigências do Oriente Médio.
O Ritual
O abate Halal precisa ser feito de forma rápida, cortando os três principais vasos do pescoço (jugular, traquéia e esôfago) para que o animaltenha uma morte instantânea. Conheça os procedimentos da técnica.
• Profissional
O abate deve ser executado por muçulmano que entenda o fundamento das regras e das condições do abate de animais no Islam. O profissional deve ser muçulmano ativo ou convertido. A frase “Em nome de Deus, o mais Bondoso, o mais Misericordioso” tem de ser invocada antes do abate.
• Utensílios
Os equipamentos utilizados no abate Halal serão exclusivos para esse tipo de degola. A faca deve estar bem afiada – não deve ser afiada na frente do animal.
• Técnica
O animal não deve estar com sede no momento do abate. A sangria deverá ser feita apenas uma vez. A ação cortante é permitida já que as facas do abate não são descoladas do animal durante o processo. O sangue deve ser totalmente retirado da carcaça. Um inspetor mulçumano tem a responsabilidade de checar se os animais são abatidos de acordo com as leis Shariah.