A progressiva abertura do mercado de frango na China para o Brasil ganhou forte impulso no ano passado com o bloqueio do país asiático às vendas do produto com origem nos EUA, acusados de subsídios e preços desleais pouco após o governo americano adotar medidas de defesa comercial conta os chineses. O valor das vendas de frango brasileiro cresceram quase 93% em 2011, para quase US$ 423 milhões, e o governo espera forte aumento também neste ano, quando o número de frigoríficos autorizados a vender para aquele país pode aumentar de 24 para 65.
A missão de técnicos chineses que deverá credenciar mais 41 frigoríficos virá ao Brasil em março. Algumas empresas exportadoras estão otimistas. É o caso da BRF- Brasil Foods, que espera aumentar em 60% suas vendas com o credenciamento de novos frigoríficos da companhia. Mas o setor encontrou um obstáculo em dezembro, quando, a pretexto de evitar a entrada fraudulenta de frango americano, a China passou a exigir, de quem desejar acelerar a liberação de contêineres, depósito antecipado equivalente à sobretaxa aplicada aos produtores dos EUA, em até 105%.
Em setembro, os americanos iniciaram consultas que podem resultar em queixa à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as barreiras chinesas. “Levamos um susto no ano passado. Parecia que os chineses estavam fechando o mercado, mas nos garantiram que estão totalmente abertos ao Brasil”, disse ao Valor o presidente da Ubabef, a associação do setor, Francisco Turra.
A devolução dos depósitos, conforme os dirigentes do setor, chega a demorar seis meses, o que prejudica principalmente a competitividade de exportadores de menor porte. Não se atribuem as medidas a uma possível retaliação chinesa pelas ações comerciais do Brasil contra produtos do país; mas Turra disse ter advertido o governo brasileiro a ter cautela ao lidar com as exportações chinesas, para evitar retaliações.
“O governo que faça um belo exame, trabalhe criteriosamente e não se deixe levar pelas emoções”, disse Turra. “Porque por um produto que importamos sem muita expressão podemos sofrer represálias em produtos que tenham grande geração de emprego aqui dentro”. Os chineses já são o sexto maior mercado para o frango brasileiro, com a característica de comprar principalmente pés e asas de frango, apreciados na culinária chinesa e produtos de menor valor e menor demanda nos outros mercados.
“A China é um mercado muito interessante para carnes em geral e o último ano foi muito positivo”, afirmou a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, que confirma as gestões do governo e do setor privado para evitar retenção de exportações de frango à China, no fim do ano passado.
O ministério, a associação dos produtores e a Agência de Promoção de Exportações (Apex) têm feito estudo de mercado, que deve ser concluído no próximo mês, para apoiar a entrada de firmas brasileiras. “Queremos identificar o gosto dos consumidores com um foco em produtos processados, para agregar valor à pauta exportadora para a China”, comenta a secretária.
“Vamos buscar relação com compradores na China, canais de distribuição chineses”, afirmou Tatiana Prazeres, que pretende estender a todas as empresa o que as maiores do segmento já vem fazendo com sócios chineses. “A ideia é que possamos não apenas aproveitar a janela de oportunidade [com a barreira ao frango dos EUA], mas também pavimentar o caminho para que possamos seguir vendendo”, disse ela.