O superávit comercial do Brasil com a Argentina aumentou para US$ 4,5 bilhões neste ano, um aumento de 80% em relação ao saldo de US$ 2,5 bilhões em favor do Brasil registrado no mesmo período em 2010. O aumento do saldo, que incomoda o governo argentino e acende pressões protecionistas no país vizinho se deve principalmente à perda de competitividade da indústria argentina. O Brasil, mesmo desfavorecido pelo real valorizado, aumentou bem mais as vendas que as compras aos argentinos.
Entre os principais parceiros comerciais do Brasil, a Argentina foi um dos que conseguiram registraram o menor aumento de suas vendas ao país, 18% de janeiro a setembro an comparação com o mesmo período de 2010. A União Europeia, em crise, aumentou em 17% as compras do Brasil, quase o mesmo percentual da Argentina, enquanto as vendas dos EUA cresceram 28,6%, sempre na mesma comparação. Especialistas do governo já preveem, informalmente, que o superávit no comércio bilateral poderá superar US$ 6 bilhões neste ano.
O Brasil, que exporta principalmente produtos manufaturados à Argentina, aumentou em 28,4% suas vendas ao país, apesar da queda na venda do principal item de exportação, os automóveis. As exportações de carros a todos os mercados do Brasil caíram 6% de janeiro a setembro, comparadas ao resultado no mesmo período do ano passado (a queda foi de 13% em setembro, em relação a setembro de 2010).
Entre os principais produtos exportados à Argentina estão tratores e máquinas agrícolas, aviões, motores, autopeças, pneus e polímeros plásticos. A Argentina segue como o terceiro maior mercado de origem das importações brasileiras, principalmente automóveis e autopeças, nafta para petroquímica, gás, trigo, plásticos, farinha de trigo e hortigranjeiros.
“O Brasil tem interesse em importar da Argentina. Quanto maior o fluxo de comércio dos dois lados, melhor”, disse a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres. Ao comentar a licença prévia que o Brasil passou a exigir no dia 10 para importar doces e chocolates, a secretária argumentou que a medida foi resultado do “monitoramento e análise interna do movimento nesse setor”.
Técnicos do ministérios dizem que a medida é uma represália ao represamento das vendas brasileiras desses produtos aos argentinos – ela afeta principalmente a Arcor, maior exportador argentino dessas mercadorias ao Brasil. Empresas brasileiras como a Bauducco chegaram a aumentar o percentual de componentes argentinos, como passas, em seus panetones, para buscar a boa vontade das autoridades que seguem bloqueando sem justificativa a entrada desses produtos no país vizinho.
Tatiana nega, porém, que o protecionismo argentino ameace o comércio bilateral. “O comércio entre os dois países cresce, e cresce de maneira importante”, argumenta, citando o superávit crescente do Brasil com a Argentina. Ela reconhece, porém, que as barreiras ao comércio têm exigido atuação constante do governo brasileiro.