O bom desempenho do comércio com os Estados Unidos mais que compensou a deterioração das transações comerciais entre Brasil e China entre janeiro e outubro deste ano. Enquanto as exportações brasileiras aos chineses caíram US$ 1,93 bilhão nos primeiros dez meses do ano, as vendas aos americanos cresceram US$ 2,19 bilhões. Os EUA deram a maior contribuição individual para evitar que o superávit comercial brasileiro neste ano caísse mais que os 32% registrados de janeiro a outubro: além de comprarem mais, os americanos venderam ao mercado brasileiro US$ 1,33 bilhão a menos que no mesmo período do ano passado.
Com o resultado das exportações e importações, o saldo negativo nas relações comerciais do Brasil com os Estados Unidos caiu quase à metade: de quase US$ 7,5 bilhões para menos de US$ 4 bilhões. “Além do aspecto quantitativo, houve também o aspecto qualitativo na mudança: houve redução nas vendas de produtos primários e aumento para os produtos industrializados”, notou a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Tatiana Prazeres. Com a China, a queda nas exportações se deu principalmente nas vendas de produtos básicos, como ferro, petróleo e açúcar.
As vendas de produtos básicos aos EUA, como petróleo e milho, tiveram aumento de 5,4%, mas as vendas de industrializados, como aviões e motores elétricos tiveram aumento bem maior, 13%. Essa conta inclui industrializados de baixo valor agregado, como etanol e suco de laranja. As vendas de etanol tiveram crescimento espetacular, de 216% (US$ 816 milhões acima do exportado entre janeiro e outubro de 2011). O etanol passou do décimo ao terceiro posto entre os itens de exportação aos EUA.
Segundo o representante de um dos maiores fornecedores do produto aos americanos, o etanol, que entra no país como combustível avançado, beneficiado pelas leis de proteção ambiental, especialmente na Califórnia, tem nos EUA um mercado cativo e crescente, devido aos cronogramas de aumento no uso de combustíveis “limpos”, mitigadores do efeito estufa. Os bons resultados com o etanol não estão garantidos, porém. A demanda por álcool no Brasil e a recuperação da produção americana, afetada pela seca nos EUA, podem causar um déficit no comércio bilateral de etanol que hoje é superavitário, alerta uma fonte do setor.
Uma commodity também teve forte influência na melhoria do comércio com os EUA: as vendas de óleos brutos de petróleo chegaram a pouco menos de US$ 5,2 bilhões, um aumento de 17% (quase US$ 760 milhões a mais) de janeiro a outubro, comparadas com o mesmo período de 2011. A venda de petróleo tem aumentado progressivamente sua importância – já expressiva – na pauta de vendas aos EUA.
Em 2010, essas exportações representavam 19,8% de todas as vendas aos americanos. No período entre janeiro e outubro de 2011 essa fatia subiu para 21,5% e, no fim do ano passado, já estava em 22,3%. Nos primeiros dez meses de 2012, a parcela ocupada pelas exportações de petróleo já chegou a 22,8%. Esses números indicam que, no futuro próximo, a venda de petróleo brasileiro poderá alcançar um quarto de todas as vendas do país aos EUA.
Segundo um executivo do setor, consultado pelo Valor, o bom desempenho na venda de petróleo é, em grande medida, garantido pela busca, nos EUA, de fornecedores alternativos ao conturbado Oriente Médio, e ocorre apesar do fechamento das operações da Chevron no campo de Frade, e da redução das vendas da Petrobras ao país, devido à queda na produção com a interrupção de atividades, para manutenção de equipamentos na Bacia de Campos.
Em 2013, com a retomada da produção e exportações da Petrobras (30% das vendas externas da empresa vão aos EUA), há a possibilidade de aumento no volume de exportações desse produto. Mas a maior dependência em relação ao petróleo traz consigo uma incerteza: segundo lembra um alto executivo do setor, a exploração das reservas de óleo e gás de xisto nos EUA, em volumes recordes, deve trazer mudanças no mercado e pode afetar os preços de exportação e a demanda americana, comprometendo o ritmo de crescimento das vendas brasileiras.
O segundo item na pauta de exportações aos EUA (7,5% do total) são os produtos semimanufaturados de ferro ou aço, como ferro-gusa, tarugos, vergalhões e chapas de aço, com usos tão distintos quanto a construção civil e a produção de máquinas. A venda desses produtos cresceu 25% nos primeiros dez meses deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado, seguindo a tendência de crescimento dos demais produtos siderúrgicos, como laminados, que tiveram aumento nas exportações de 68%, embaladas pela recuperação da economia americana.
Tatiana Prazeres aponta outros setores de alto valor agregado com aumento significativo nas vendas aos Estados Unidos, como motores e outros componentes para aviões, com crescimento de 35,4% nos primeiros dez meses do ano. A venda de aviões aumentou 40%, um acréscimo de US$ 162 milhões às receitas de exportação do Brasil.
“Como o crescimento é em diferentes setores, haverá diferentes explicações para o resultado”, comenta a secretária de Comércio Exterior. “O pano de fundo é o fato de que, embora o crescimento da economia americana não seja muito substantivo, os EUA seguem importando, com oportunidades em diversos setores”, diz Tatiana, que vê grande influência também do chamado “comércio intrafirma”, de empresas de origem americana com filial no Brasil, como fabricantes de máquinas pesadas.